Destinação dos recursos e retornos iniciais
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Destinação dos recursos e retornos iniciais


Neste texto da série sobre as variáveis que determinam os retornos no primeiro dia de ofertas iniciais, o fator é a destinação dos recursos captados (em ofertas primárias, obviamente). Deve constar do prospecto das ofertas uma seção que declare os futuros usos para os recursos captados na oferta (mesmo ofertas secundárias devem ter essa seção, declarando que a oferta é secundária e que, portanto, não consiste em captação de recursos para a empresa). São várias as destinações possíveis e em meu TCC restringi a três, para a minha análise: financiamento de novos investimentos (ou seja, que não sejam investimentos em andamento), aquisições e pagamento de dívidas.

Beatty e Ritter (1987) encontraram uma relação positiva entre a quantidade de usos de recursos e retornos iniciais. No mercado brasileiro, Zierth (2008) não encontrou relação significativa. Ljungqvist (2007) ressalta que a definição de quantidade de usos dos recursos não é algo padronizado, o que pode causar erros na coleta de dados.

A análise de Booth e Booth (2010) determinou que a média dos retornos no primeiro dia de empresas que declararam ter como propósito do dinheiro captado o pagamento de dívidas é menor do que das empresas que declararam ter outros propósitos. Na análise multivariada, há uma relação negativa entre retornos iniciais e o fato da empresa ter propósitos de pagar dívidas. Isso se deveria ao fato de pagamento de dívidas gerar menos incerteza sobre os resultados futuros do que aquisições ou novos projetos.

Ljungqvist e Wilhelm (2003) determinou uma relação positiva entre retornos iniciais e pretensões em gastar os recursos da oferta em gastos operacionais. Zierth (2008) testou se a porcentagem dos recursos destinada às aquisições tem relação com os retornos, não encontrando relação significativa.

Na minha análise, as três destinações de recursos citadas no primeiro parágrafo são três variáveis dummies com valor igual a 1 caso a ofertante declare que tenha a pretensão de utilizar os recursos dessa maneira. 61,16% das empresas emissoras em ofertas primárias ou mistas declararam que pretender fazer novos investimentos, 38,84% aquisições e 28,93% pagamento de dívidas. O retorno médio das empresas que pretender realizar novos investimentos é de 4,37%, 3,90% para as que pretendem financiar aquisições e 4,60% para as que pretender pagar dívidas. As diferenças entre as médias não são estatisticamente diferentes de zero.

Na análise multivariada com dados conhecidos após a oferta, a única variável que mostrou significância estatística foi a intenção de fazer novos investimentos, com coeficiente de aproximadamente 4,5%. Uma possível explicação é a de que ofertas mais incertas (o resultado dos novos investimentos é incerto) sobem mais no primeiro dia, mas, no mercado brasileiro, essa seria a única evidência em favor dessa teoria. Outra explicação é a de que essas ofertas “agregam valor” e por isso sobem mais no primeiro dia. Isso, porém, não explicaria a relação negativa entre porcentagem de oferta primária e retornos. Essa relação negativa poderia ser apenas um contrapeso estatístico para a destinação de recursos. Excluindo as três variáveis de destinação, o coeficiente da porcentagem de oferta primária continua negativo, mas mudando de algo próximo de -0,08 para -0,05.

Observando as ofertas primárias e mistas que mais subiram no primeiro dia, 6 tinham a intenção de fazer novos investimentos, 4 aquisições e 5 pagar dívidas. Observando as de pior desempenho, 6 pretendiam fazer novos investimentos, as mesmas 6 pretendiam fazer aquisições e apenas três pagar dívidas. A Le Lis Blanc, a de maior queda no primeiro dia, tinha as três intenções e a Agrenco apenas uma, pagar dívidas. Agrenco, nesse sentido, é um caso particular porque sua intenção era pagar uma dívida contraída com o coordenador em uma operação muito estranha, para dizer o mínimo (ver aqui). Dessa forma, não há um padrão claro para identificar as ofertas mais propensas a terem maior ou menor retorno.



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