Dinheiro dos IPOs ainda está no caixa das empresas
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Dinheiro dos IPOs ainda está no caixa das empresas


Onze companhias estrearam na bolsa brasileira em 2011. Considerando os recursos que entraram no caixa das empresas, e não no bolso dos acionistas, captaram perto de R$ 5 bilhões.

O Valor entrou em contato com todas as novatas. A T4F, do ramo de entretenimento, não concedeu entrevista. A oferta da empresa movimentou R$ 538 milhões sendo que 35% do total foram para o caixa. A varejista Magazine Luiza informou que divulgará apenas no fim do ano quanto dos R$ 550 milhões captados na distribuição primária já foi gasto.

Somando o total levantado pelas outras nove, Arezzo, Sonae Sierra Brasil, Autometal, Queiroz Galvão Produção e Exploração (QGEP), International Meal Company (IMC), Brazil Pharma, Qualicorp, Technos e Abril Educação, juntas, ele se aproxima de R$ 4,3 bilhões. Até o momento, elas gastaram cerca de R$ 1,4 bilhão, ou 33% do que captaram.

O ano foi bastante fraco para o mercado de capitais, mas todas as empresas afirmam que não se arrependeram de ter ido à bolsa - apesar de, algumas, inclusive, terem captado menos do que gostariam. A maior parte do dinheiro foi destinada a pagamentos de dívidas e aquisições. E muitas empresas iniciam 2012 ainda com o caixa cheio para concretizar os planos de crescimento.

Dentre as nove que fazem parte do levantamento, a fabricante de componentes automotivos Autometal continua com os R$ 440 milhões disponíveis - não gastou nem um centavo.

Fernando Mearim, diretor financeiro e de relações com investidores, afirma que a empresa trabalhava em aquisições desde antes da operação e teve algumas propostas recusadas.

"Estamos hoje olhando 11 empresas no Brasil e duas no México. Algumas estão em processos mais avançados, outras em conversas preliminares. A intenção é fechar o quanto antes, mas só vamos entregar aquisição que seja geradora de valor", afirmou Mearim. O executivo diz que a empresa está sendo bem criteriosa nas compras. "Nossa estratégia é de longo prazo. O mínimo que esperamos em qualquer aquisição é 20% de taxa interna de retorno."

Também a Arezzo não fechou nenhuma aquisição - desejo comunicado no momento da preparação da oferta inicial -, embora tenha tentado. Em junho, divulgou que negociava com a marca de calçados femininos Santa Lolla, mas a transação não foi adiante.

"Em processos de fusões e aquisições, somos muito diligentes e dedicados. Mas o fechamento de um negócio não está só nas nossas mãos. O outro tem que querer também", diz o fundador da Arezzo, Anderson Birman.

Segundo ele, o projeto aquisições está andando de lado. Embora estejam de olho em oportunidades. "Temos ainda cerca de R$ 140 milhões guardadinhos para compras", afirma.

Mas, no momento, a companhia prioriza o crescimento orgânico. Já utilizou R$ 55 milhões para abertura de lojas, capital de giro, investimentos e ampliação de suas unidades.

A Brazil Pharma, holding de farmácias do BTG Pactual, gastou apenas em novembro 70% dos R$ 414 milhões captados. Foram R$ 14 milhões para a compra da na Estrela Galdino, da Bahia, e R$ 274 milhões para ficar com a rede de drogarias Big Ben, espalhada pela região Norte.

A Qualicorp, operadora de planos de saúde, destinou 15% dos R$ 350 milhões que conseguiu na oferta de ações primária para aquisições. O presidente da empresa, Heráclito Gomes, afirma que abrir o capital era o melhor caminho para buscar recursos. "Antes da oferta, levamos dois anos para fechar três aquisições. Desde a operação, já fizemos três e estamos analisando mais algumas", diz.

Diminuir as dívidas foi a primeira opção da fabricante de relógios Technos, da Abril Educação e da IMC, dona das redes Frango Assado e Viena.

No caso da Technos, R$ 113 milhões dos R$ 181 milhões da oferta primária foram para abater o endividamento; R$ 68 milhões estão no caixa. Thiago Picolo, diretor financeiro, afirma que a empresa está empenhada em encontrar novas oportunidades.

"Isso se daria via aquisições ou alguma outra iniciativa orgânica que a gente venha a fazer, mas num setor diferente. Seriam negócios que fogem do que é nosso foco hoje. Para vender relógio, com as marcas e o canal que temos, não precisamos de novos recursos porque geramos caixa", diz. Uma opção, conta, seria ingressar no segmento de óculos de sol. "Esse setor permitiria uma aproximação ainda maior com os varejistas que já temos relacionamento", afirma o executivo.

A Abril usou R$ 100 milhões dos R$ 370 milhões que captou para reduzir dívidas, conforme previsto. Outros R$ 33 milhões foram para a compra do sistema de ensino Maxi.

Quando o assunto são novas operações, Manoel Amorim, presidente da Abril Educação, diz que olha ativos que tenham três características: boa qualidade; aderência às linhas de seus negócios, que têm alta taxa de crescimento; e tamanho que permita a empresa alavancar bastante o crescimento com a sua estrutura comercial.

"Diria que o mercado está favorável. Para uma empresa como a nossa, capitalizada, pouco alavancada, num mercado que está com ativos com preços mais baixos esta é uma ótima época para ir às compras. Nos próximos seis a doze meses, faremos mais duas ou três. Isso já deve representar em torno de 50% do montante que temos para esta finalidade."

A IMC usou R$ 120 milhões dos R$ 300 milhões que obteve com a oferta para o pré-pagamento de dívidas. O atual índice de endividamento da companhia é quase zero, então a empresa pode se alavancar caso faça aquisições maiores.

"Optamos pela bolsa para podermos também usar nossa ação como moeda para fusões e aquisições", diz Gonzalo Cardoner, diretor de relações com investidores da IMC.

Desde a chegada à bolsa, em março, a companhia já anunciou a aquisição da Aeroservicios de La Costa, que fornece refeições para companhias aéreas, e contratos para abrir restaurantes em três aeroportos operados pela Airplan, dois em Medellín e um em Montería, na Colômbia.

Os R$ 180 milhões que foram para o caixa depois da oferta, mais a geração de caixa operacional prevista para os próximos anos, darão conta do projeto de expansão da companhia nos próximos três a quatro anos.

A operadora de shoppings Sonae Sierra Brasil usou 15% dos R$ 465 milhões que captou em seus shoppings, para construção e também expansão.

"Nosso plano de desenvolvimento de 2011 a 2013 prevê gastos de R$ 750 milhões. Metade desses recursos veio da oferta e o restante, de financiamento bancário", afirmou Carlos Corrêa, diretor financeiro e de relações com investidores da companhia.

A QGEP gastou R$ 600 milhões do total de R$ 1,5 bilhão que levantou na aquisição de blocos exploratórios.

Paula Costa, diretora financeira e de relações com investidores da Queiroz Galvão Produção e Exploração, conta que estrategicamente falando as operações foram muito importantes para os planos da companhia, que pode iniciar a sua campanha exploratória.
Fonte:Valor14/12/2011



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