Ruína de startups bilionárias gera medo de uma nova bolha da internet
Marcas e Empresas

Ruína de startups bilionárias gera medo de uma nova bolha da internet


Empresas como o Fabs mal ingressaram no seleto clube do US$ 1 bilhão, e já desesperam investidores ao perder mil vezes seu valor de mercado

 O Fab.com, uma loja online que vende design de primeira linha a preços acessíveis, dava sinais no ano passado de que se tornaria a próxima Amazon. Porém, alguns meses depois ela já dava sinais de que poderia se tornar o próximo Pets.com.

 Capitalistas de risco famosos, incluindo a firma Andreessen Horowitz, investiram muito dinheiro na empresa ao longo dos últimos anos, atraídos por seu crescimento exorbitante.

Depois de conseguirem mais de US$ 170 milhões em investimentos de risco em junho, essa rodada elevou o valor de empresa para mais de US$ 1 bilhão e a colocou no seleto grupo das iniciantes com este valor, que incluem Snapchat, Pinterest, Evernote, Spotify e Dropbox.

 No entanto, ao final do verão, o Fab já não fazia mais parte desse grupo de elite. Em meio a problemas financeiros, ela mandou embora centenas de funcionários. Um dos fundadores e o diretor de operações deixaram a empresa, que passou a valer menos de um US$ 1 milhão, deixando alguns investidores desesperados.

 A ascensão e a queda do Fab demonstra a velocidade com a qual a sorte das iniciantes pode mudar. E quando chegou ao auge, isso também mostrou porque algumas empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão geram o medo de uma nova bolha "ponto com".

 "Prever o que está mal avaliado e o que está superavaliado é incrivelmente difícil", afirmou Josh Lerner, professor de empreendedorismo da Harvard Business School. "É uma barra ver uma empresa jovem e supervalorizada e dizer que aquilo está errado, mas às vezes é o que acontece". O Fab não quis dar declarações para este artigo.

 O crescimento do clube das empresas de US$ 1 bilhão deixou no chinelo a exuberância de pouco mais de uma década atrás.

 Nos três anos entre 2011 e 2013, houve ao menos 34 investimentos que elevaram os valores de empresas a mais de US$ 1 bilhão, de acordo com a Dow Jones VentureSource, se comparado com as 16 entre 1998 e 2000.

 Porém, é de mais do que um frenesi especulativo que está elevando o valor dessas empresas. Uma série de mudanças nos mercados de capital, no setor de capitais de risco e nos mercados de public equity se uniram para que seja mais fácil do que nunca fazer o valor de iniciantes em começo de carreira passar de US$ 1 bilhão.

 Por um lado, os mercados de ações e fusões demonstraram que as valorizações rápidas de muitas empresas são mais que justificáveis. As ações do Facebook foram às alturas depois dos problemas iniciais.

Empresas que abriram o capital recentemente, como o Twitter, estão se saindo bem. Além disso, o Instagram e o Tumblr venderam ambos mais de US$ 1 bilhão cada, encorajando os capitalistas de risco.

"Uma série de empresas de primeira linha no espaço das mídias sociais obteve sucesso, criando um loop que se retroalimenta", afirmou Lerner. Outro fator por trás das valorizações é o aumento de 38% no ano passado no índice composto da Nasdaq, que conta em grande parte com empresas de alta tecnologia. Para investidores de risco ansiosos na busca da nova grande descoberta, mercados de ação saudáveis agem como um farol verde para que o fluxo de dinheiro não pare de chegar às empresas privadas que podem abrir o capital ou ser vendidas.

 "Sempre há uma exuberância longa e quase irracional ligada ao entusiasmo, à excitação e ao crescimento de uma empresa quando a economia vai bem", afirmou Jayshree Ullal, executiva-chefe da Arista Networks, uma empresa de cloud networking avaliada em US$ 2,5 bilhões.

 Mais do que isso, a existência de financiamento barato para empresas e investidores, que ajudam a manter o mercado de ações, permite que os investidores financiem negócios com facilidade e emprestem mais dinheiro. NYT

 Fundos de pensão e renda estão colocando mais dinheiro nos fundos de capital. No terceiro trimestre, as empresas de capital de risco levantaram mais de US$ 4,1 bilhões, um aumento de 28% em relação ao trimestre anterior, de acordo com a National Venture Capital Association.

 E com tanto dinheiro para gastar, os fundos de risco estão competindo entre si para investir o dinheiro, um processo que muitas vezes ajuda a elevar ainda mais as valorizações.

 Quando o serviço de compartilhamento de caronas Lyft tentava conseguir outra rodada de investimentos no ano passado, muitas empresas, incluindo a Greylock Partners, estavam interessadas em investir.

 Antes que eles pudessem oferecer qualquer dinheiro ao Lyft, a Andreessen Horowitz já havia feito uma oferta que o Lyft não podia recusar, de acordo com pessoas que sabiam sobre a situação.

 A Andreessen Horowitz é conhecida no Vale do Silício por esse tipo de tática, depois de ter sucesso com empresas como o Facebook, o Twitter e o Skype. De acordo com a CB Insights, que registra investimentos de risco, o tamanho médio dos investimentos da empresa era substancialmente maior que o das concorrentes New Enterprise Associates e Greylock.

 Contudo, a Andreessen Horowitz não está só. No terceiro trimestre, empresas de capital de risco investiram US$ 7,8 bilhões, um aumento de 12% em relação ao trimestre anterior, de acordo com a associação de capital de risco e a PricewaterhouseCoopers.

 A competição é especialmente acirrada quando se trata de investimentos de estágio final nas empresas bilionárias mais admiradas, um grupo que inclui empresas como a Square, a Box e a Uber.

 E a briga está se tornando mais acirrada à medida que novos investidores começam a concorrer com os fundos de risco. Concorrência de investidores de estágio final como a Meritech Capital, a Institutional Venture Partners e fundos hedge como o Tiger Global e a Valiant Capital Management elevaram ainda mais as valorizações.

 Esses fundos esperam retornos mais baixos que os capitalistas de risco, de forma que correm menos risco investindo em empresas mais maduras e que são apostas mais seguras.

 "Se você dispõe de fundos e precisa investir bastante de uma vez, não é melhor apostar em algo que seja mais seguro?", perguntou Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures. Em uma postagem de blog lida por muitos sobre as empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, Lee chamou o grupo de "Unicorn Club".

 Em maio do ano passado, o Evernote, uma empresa que faz um aplicativo de produtividade, arrecadou dinheiro e gerou uma valorização significativamente maior. Depois de apenas sete meses, o interesse da Valiant, um fundo hedge com sede em São Francisco que também investiu no Dropbox, e da afiliada da AGC Equity Partners, m8 Capital, elevaram a valorização para cerca de US$ 2 bilhões.

Para as empresas de capital de risco que não são capazes de investir em empresas de ponta, sua inclinação é espalhar o investimento entre uma gama ampla de empresas, muitas das quais são derivativas.

 Quando o site de ofertas Groupon ia bem, por exemplo, grandes investidores, incluindo a Amazon, colocaram bastante dinheiro na rival LivingSocial. Por algum tempo, a empresa estava avaliada em US$ 1,5 bilhões. Todavia, em fevereiro, a LivingSocial recebeu US$ 110 milhões em novos investimentos quando já valia menos, uma rodada baixa, como é conhecida no setor.

 "Esses fundos têm muito dinheiro e o investem em qualquer coisa que pareça boa", afirmou Alexander Ljungqvist, professor de finanças da Universidade de Nova York. "É como jogar macarrão na parede e ver o que cola".

 Contudo, muitos investidores duvidam que empresas jovens irão justificar as valorizações abismais algum dia.

 "As valorizações nunca são um reflexo do desempenho atual, mas da oportunidade futura", afirmou Ullal, da Arista Networks. "A maioria dessas empresas se valorizam tranquilamente e não saem de cena depois disso".

 Além disso, investidores em tecnologia destacam que o mercado para as empresas de tecnologia é maior do que era há 15 anos.

 "No último ciclo, havia pouco mais de 500 milhões de pessoas online e todas com modens de 56k", afirmou David Lee, da SV Angel, uma empresa de investimentos em estágio inicial. "Até 2015, haverá cinco bilhões de pessoas com supercomputadores nas mãos".

 Ainda assim, para alguns, o Fab e outras empresas que se valorizam muito se tornaram um sinal de que muito dinheiro está indo atrás de poucas boas ideias.

 "Esse é o drama que já se repetiu em diversas ocasiões e em um dado momento a música vai parar de tocar", afirmou Lerner, da Harvard.
Fonte: iG 25/01/2014



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