Marcas e Empresas
Apetite por ativos reais
Com o cenário desfavorável para bolsa neste ano, diante do aumento das incertezas no mercado internacional, tem crescido o interesse dos investidores por aplicações em ativos ligados à economia real, como a aquisição de participações em empresas ou a compra de imóveis.
Só o Itaú Unibanco tem cerca de R$ 1,5 bilhão dos clientes de private banking à espera de bons projetos de investimentos. "Os clientes acreditam que o Brasil vai crescer e querem participar desse movimento", afirma Celso Scaramuzza, diretor do private banking do banco. Cerca de R$ 1 bilhão já estão comprometidos em investimentos em private equity, que foca a aquisição de participação em empresas fora da bolsa.
A instituição foi pioneira em oferecer esse tipo de investimento e tem buscado parcerias com gestores independentes como a Kinea, Pátria e Neo Investimentos para a distribuição dos produtos.
Apenas com a Kinea, braço de investimentos alternativos do Itaú Unibanco, foram comprometidos R$ 300 milhões, sendo R$ 225 milhões para o Fundo de Investimento em Participação (FIP) e R$ 75 milhões em co-participação em algumas transações.
O fundo conta com R$ 250 milhões e já investiu em duas empresas: o grupo Multi, que controla as marcas de ensino de idiomas Wizard, Skill, Alps e Quatrum; e a Unidas, de locação de veículos.
O objetivo é investir de R$ 100 milhões a R$ 300 milhões na aquisição de participações minoritárias em empresas, e os clientes do private do Itaú poderão investir junto com o fundo no momento da aquisição. "A bolsa não reflete a performance da economia real e há diversas empresas médias que devem abrir o capital nos próximos anos e que apresentam forte crescimento", afirma Cristiano Lauretti, responsável pela área de private equity da Kinea.
Apesar de não sofrerem com a volatilidade diária do mercado de ações, esses investimentos têm baixa liquidez e o investidor deve estar preparado para comprometer os recursos por longo prazo, que varia de sete a dez anos. Como envolve maior risco, a taxa de retorno esperada para essas produtos também é atrativa, e varia, segundo Lauretti, de 25% a 30% ao ano. "Estamos olhando oportunidades em empresas ligadas ao setor de consumo, varejo, alimentos e que devem se beneficiar de investimentos em infraestrutura."
Antes restritos a investidores institucionais como fundos de pensão, os investimentos em private equity já começam a ter participação de pessoas físicas, que passaram a ser consideradas um público-alvo para esses gestores. Dos US$ 1,6 bilhão captados pelo BTG Pactual no final de junho, cerca de 20%, correspondente a US$ 320 milhões, foram aplicados por clientes do private banking do banco. "A captação entre os nossos clientes foi acima do esperado", afirma Renato Cohn, um dos responsáveis pela área de gestão de fortunas do BTG. "Muitos deles são empresários que entendem de negócios e sabem o que as empresas têm a oferecer."
Os clientes que venderam suas companhias nos últimos anos e estão com recursos disponíveis também buscam oportunidades de investimento no mercado corporativo e imobiliário.
A participação de ativos ilíquidos no portfólio dos investidores private ainda é pequena no Brasil, inferior a 5% do patrimônio, mas responde por 10% a 15% da carteira de family offices nos Estados Unidos e Europa.
A alocação nesses produtos, no entanto, é para poucos privilegiados. O volume mínimo para aplicação no fundo do BTG era de R$ 15 milhões, o que requer um patrimônio de no mínimo R$ 100 milhões. O banco, eventualmente, ainda pode oferecer a possibilidade de coinvestimento em alguns negócios fechados pelo fundo.
Apesar de ser restrito a um público seleto, começam a surgir alternativas como os fundos que aplicam em carteiras de private equity e exigem uma aporte mínimo menor, alcançando uma base maior de investidores.
A Ocroma Alternative Investments lançou neste ano um fundo que investirá em diversas carteiras de private equity que contou com distribuição entre alguns private banks e gestoras de fortuna. O investimento mínimo exigido era de R$ 1 milhão.
Alguns clientes, no entanto, poderão investir diretamente nos projetos, por meio de um veículo de coinvestimento que será oferecido para family offices.
O fundo pretende investir de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões por transação e já aprovou dois projetos. "A vantagem do private equity é a possibilidade de acessar um universo mais amplo de empresas e setores que não têm presença no mercado acionário como infraestrutura", afirma Leonardo Ribeiro, sócio da Ocroma.
Em 2008, o Credit Suisse Hedging-Griffo também chegou a fechar uma parceria com a Fama Investimentos para distribuição de um fundo que aplica em uma carteira de private equity da gestora, que somou R$ 100 milhões e contou com a participação de 170 cotistas pessoas físicas. O produto foi destinado para clientes qualificados, com pelo menos R$ 300 mil em investimentos, e o aporte mínimo na ocasião foi de R$ 50 mil.
O CSHG também captou recentemente R$ 50 milhões com clientes do private banking, para investir em fundo voltado para projetos de incorporação residencial, lançado em parceria com a gestora de private equity Endurance Capital Partners. A carteira foi para investidores superqualificados, com aplicação mínima de R$ 1 milhão.
A Endurance já tem um fundo de private equity de R$ 100 milhões, dos quais mais da metade vieram de clientes de family offices e pretende lançar uma nova carteira no segundo trimestre, com previsão de captação de US$ 150 milhões. "Esse movimento de investimento em ativos reais é anterior à crise e tem se acelerado, principalmente no setor imobiliário", afirma Gustavo Aranha, responsável por produtos de private banking do CSHG.
Dos R$ 34 bilhões da carteira do private banking do banco, cerca de R$ 1,5 bilhão estão alocados em fundos imobiliários, a maior parte com foco na distribuição de rendimentos.
A Kinea também pretende lançar no próximo trimestre mais um fundo que compra participação em projetos imobiliários residenciais. A gestora já tem FIP de incorporação imobiliária, que investiu em 26 projetos residenciais e de pequenas salas comerciais. Dos R$ 150 milhões captados no primeiro fundo, 85% foram de pessoas físicas.
Diferente dos fundos imobiliários de renda, com foco em aluguel, os fundos de participação são voltados para investidores qualificados, com mais de R$ 300 mil em aplicações financeiras. Apesar do risco maior, os fundos de incorporação podem oferecer um retorno mais atrativo que os de renda, em torno de 12% a 14% ao ano, contra 8,5% a 9% ao ano do segundo, lembra Carlos Martins, responsável pela área imobiliária na Kinea.
Fonte:ValorEconômico15/08/2011
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