As seis lições
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As seis lições





(Economic Policy: Thoughts for today and tomorrow)
Ludwig Von Mises

Nasceu em 29 de setembro de 1881 o economista austríaco Ludwig von Mises, um dos principais nomes da Escola Austríaca de Economia. Neste texto, resenha de um livro básico sobre as ideias de Mises, o As Seis Lições. Trata-se de uma série de palestras proferidas em Buenos Aires na década de 1960 sobre seis tópicos de Economia. Essa é uma maneira bastante simples de se aprender Economia que pode ser complementada com a leitura de outras obras que aprofundem as seis lições desse pequeno livro (de pouco mais de 100 páginas).

A primeira lição é sobre capitalismo. Mises vê a origem do capitalismo no final do Feudalismo como uma maneira de atender as necessidades de um grande contingente da população, não atendida pelo sistema vigente, através de meios de produção em massa. Além disso, vê como peça fundamental do capitalismo a primazia dos consumidores e a concorrência entre fornecedores de um produto ou de bens rivais. É interessante nesse ponto a observação de que os supostos “reis” da indústria não reinam sobre nada, já que dependem de trocas voluntárias com os consumidores. No fim, são os consumidores, não os empregadores, que definem o quanto os empregados irão receber.

Mises contesta a visão de que a época da revolução era um desastre social, na medida em que, embora as condições de vida nas cidades não fossem as melhores, no campo eram muito piores. Antes da revolução industrial e mesmo contemporaneamente a ela, a Inglaterra mal podia sustentar uma população de seis milhões, enquanto que hoje abriga 50 milhões em condições bem melhores do que da época. E hoje em dia não há tanta diferença no atendimento das necessidades básicas ao menos no que se refere ao mínimo necessário: ricos e pobres têm alimento, roupa e abrigo nas principais economias capitalistas. Tudo isso foi possível pelo aumento no capital poupado e investido em projetos produtivos.

A segunda lição é sobre socialismo e liberdade econômica, “o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade”, essencial para obter outros tipos de liberdades (de expressão, de pensamento, de culto etc.). Uma boa definição de Mises a respeito da liberdade é que uma pessoa depende tanto dos demais como estes dependem dela, ou seja, para ser servido, precisa também servir. A maior ameaça à liberdade é o governo, que tem o poder de forçar as pessoas a fazer determinadas coisas, e muitas utiliza esse poder para forçar que as pessoas consumam ou deixem de consumir determinados bens ou serviços. O socialismo é justamente o contrário da liberdade econômico, a imposição pelo planejamento central de comportamentos de consumo e a definição de carreiras. Tirando a questão ética de utilizar a força como meio para alcançar os objetivos, esse planejamento central é ineficiente, pois falta o sistema de preços para que os agentes possam realizar cálculos econômicos. O conhecimento disperso na sociedade sobre preferências do consumidor e escassez não pode ser centralizado pelo governo, de forma que as transações econômicas ficam distantes de satisfazer as necessidades das pessoas. Sob liberdade econômica, uma pessoa pode inventar um produto e tentar vende-lo ao mercado, ganhando caso as pessoas gostem do produto, perdendo caso contrário; sob planejamento central, o produto irá ao mercado se o governo assim quiser, independente das preferências do consumidor (o mesmo vale para inovações militares e subsídios das artes, nos exemplos de Mises).

O terceiro capítulo é sobre o intervencionismo, ou seja, a atuação do governo além de suas funções legítimas, que são, segundo Mises, a de proteger os cidadãos dentro do país contra investidas violentas e fraudulentas de bandidos ou inimigos externos. O intervencionismo econômico faz com que os produtores ajam de uma maneira diferente da que fariam caso atuassem apenas guiados pelos desejos dos consumidores para satisfazer a agenda do governo. Os exemplos de intervencionismo adotados são os de controle de preços, estabelecendo mínimos e máximos, e Mises mostra como uma intervenção acaba levando a um número ilimitado de intervenções, como legislação antitruste para combater cartéis que só foram possíveis de existir por conta do intervencionismo. Se o processo não for interrompido, resultará no planejamento central abordado no capítulo anterior.

A inflação é tema da quarta lição. De começo, estabelece a questão não primariamente como um aumento nos preços, mas como um aumento na quantidade de dinheiro na economia. Em seguida, mostra como a inflação é uma forma do governo se financiar e como a inflação desorganiza o sistema econômico e pode levar ao colapso da economia de um país. Mostra também como não é possível criar prosperidade ou reduzir o desemprego através da emissão de moeda.

No quinto capítulo, Mises analisa as diferenças entre os países e a necessidade dos investimentos externos para a equalização das condições de vida entre os países. Como é necessário investimentos em capital para desenvolver o país, se o próprio país não tiver os recursos necessários, pode importar esses capitais do exterior, na forma de empréstimos (que deverão ser devolvidos no futuro) ou de participação nas empresas (ou seja, na exportação de ações das empresas). Mises mostra como isso funcionou em diversos exemplos, o principal sendo o de como a Alemanha alcançou o nível de desenvolvimento da Inglaterra graças aos recursos fornecidos pelos britânicos. O economista chega a classificar o investimento externo como o maior acontecimento histórico do século XIX. O problema é que os governos têm a tendência de adotar uma posição de hostilidade contra o investimento externo, podendo interferir através da expropriação (ou ameaça de expropriação) dos ativos detidos por estrangeiros ou por meio de protecionismo e tarifas.

No último capítulo, Mises escreve sobre política. Em sua visão, antigamente os participantes do sistema político partiam do pressuposto de que os cidadãos concordavam quanto à meta final da política, que é aumentar o bem-estar da nação. A luta partidária era totalmente legítima, porque há naturalmente discordância de opiniões quanto à forma de se alcançar esse fim. Partidos políticos são, dessa forma, uma reunião de pessoas com ideias semelhantes. Entretanto, o que temos hoje não são partidos políticos, e sim grupos de pressão tentando obter ganhos para si à custa dos outros. O declínio atual da política é parecido com aquele enfrentado no Império Romano, onde a economia ruiu quando passaram a predominar as ideias intervencionistas, socialistas e inflacionárias. A solução, segundo Mises, é a disputa de ideias, a tentativa de substituir as ideias ruins (e antigas, já refutadas em diversas ocasiões) pelas boas (que encontram resistências de grupos de pressão).

O livro é muito interessante ao apresentar importantes ideias econômicas de maneira bastante simples de entender. O interessado em conhecer mais da obra de Mises pode acessar o site do Mises Brasil, onde é possível ler gratuitamente diversos livros de Mises e autores relacionados. 



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