Marcas e Empresas
Carrefour recebe oferta de aliança com Pão de Açúcar
Fusão pode consolidar a liderança da companhia brasileira no varejo do país
Carrefour afirmou que recebeu proposta do grupo Gama, empresa do BTG Pactual, para criar uma parceria estratégica combinando os ativos entre as duas empresas
Paris - O Carrefour anunciou nesta terça-feira que recebeu uma proposta de fusão de seus ativos no Brasil com a maior empresa de varejo do país, o grupo Pão de Açúcar. A oferta conta com suporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A proposta, feita pela Gama, uma empresa controlada pelo banco BTG Pactual e capitalizada pelo BNDES, surge depois que o Pão de Açúcar adquiriu nos últimos anos as redes de varejo Ponto Frio e Casas Bahia, operações que ainda não passaram pelo crivo do órgão de defesa da concorrência no país, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Uma fusão entre os ativos no Brasil do Carrefour com o Pão de Açúcar reforçará a liderança da empresa do empresário Abílio Diniz no setor no país e criará uma companhia com vendas combinadas de mais de 30 bilhões de euros (43 bilhões de dólares).
As negociações entre os grupos começaram a partir da iniciativa de Diniz, mas o grupo francês Casino, parceiro do Pão de Açúcar e arquirrival do Carrefour, informou que está em posição para bloquear uma eventual fusão no Brasil. O Casino informou ainda que nenhuma negociação por parte do Pão de Açúcar pode ocorrer sem seu consentimento e que vai examinar a melhor forma de defender o interesse do Pão de Açúcar e de seus acionistas.
O Casino e o grupo de Diniz dividem em partes iguais a holding Wilkes, que controla 66 por cento dos direitos de voto no Pão de Açúcar. Sob os termos da proposta, a Gama se tornaria uma acionista importante do Carrefour, com uma participação de 11,7 por cento e poderia comprar ações adicionais representativas de até 6 por cento do capital da varejista.
À Reuters, a Gama informou que não tem relação com Diniz. A oferta prevê que a Gama firme um acordo de acionistas e atue em conjunto com Blue Capital, Colony Blue Investor e Groupe Arnault, acionistas do Carrefour e que juntos detêm 20,2 por cento dos direitos de voto na varejista francesa.
A empresa do BTG Pactual teria direito a dois lugares no conselho de administração do Carrefour, incluindo o posto de vice-presidência, que atualmente é detido por Sebastien Bazin, chefe da Colony Europe.
O conselho de administração do Carrefour foi informado sobre os termos da proposta e vai avaliá-la nos próximos dias.
No Brasil, a consultoria Estáter, que assessora o Pão de Açúcar, concederá entrevista à imprensa nesta manhã para detalhar a proposta de aliança com o Carrefour. Representantes do BNDES, BTG Pactual e do Pão de Açúcar não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto.
A proposta veio enquanto o francês Casino sinalizou interesse em consolidar seu controle sobre o Grupo Pão de Açúcar, com aumento de participação na rede brasileira e alertando os parceiros de Diniz sobre sua contrariedade diante de notícias de que o empresário discutiu aliança com o rival nos últimos dias.
"É improvável que esta transação aconteça em breve, porque para isso acontecer, os acionistas do Pão de Açúcar precisam aprovar. É improvável que o Casino vai querer vender o negócio. É o ativo mais valioso deles. Dado que eles dividem o controle, eles devem poder bloquear a operação", afirmou o analista Christopher Hogbin, do Bernstein.
Mas outro analista que pediu para não ter seu nome divulgado, informou que o fato de a proposta envolver o BNDES pode tornar mais difícil para o Casino bloqueá-la.
Uma fusão das lojas brasileiras do Carrefour com o Pão de Açúcar garantiria à empresa combinada uma participação de 28 por cento do mercado varejista do Brasil e uma redução de custos de mais de 1 bilhão de dólares ao ano, segundo relatório recente de analistas do Bank of America Merrill Lynch.
As conversas com o Carrefour ocorrem enquanto a família Diniz se prepara para discutir o execício de opção do Casino para adquirir o controle total do Pão de Açúcar, que se torna válido em junho de 2012.
Ao unir forças com o Carrefour no Brasil, o Pão de Açúcar ganharia escala e equilibraria a erosão vista nas margens desde que ingressou no segmento de eletroeletrônicos com as aquisições de Ponto Frio e Casas Bahia, afirmam analistas. A empresa combinada teria três vezes o tamanho da unidade brasileira do Wal-Mart, segundo o Bank of America Merrill Lynch.
Sinergia Pão de Açúcar-Carrefour pode atingir R$ 1,8 biEstimativa é que os ganhos anuais variem entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,8 bilhão
São Paulo - A fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour pode gerar sinergias que chegam a R$ 1,8 bilhão por ano, segundo Claudio Galeazzi, sócio do BTG. A estimativa é que os ganhos anuais variem entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,8 bilhão. "Haverá ganho de escala significativo. As sinergias serão muito relevantes, caso a operação seja aprovada", disse o executivo. O Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour têm mais de 1,2 mil lojas juntos, presentes em 178 municípios do Brasil.
As duas redes passam a ter juntas 27% do mercado formal brasileiro de supermercados. O Grupo Pão de Açúcar tem um total de 50 centros de distribuição e o Carrefour tem 17.
Galeazzi lembrou que nos Estados Unidos, o Walmart, maior rede de supermercados do mundo, tem 32% do mercado americano e, por isso, consegue oferecer preços mais baixos aos consumidores. Com o Pão de Açúcar aconteceria o mesmo no Brasil, disse.
Carrefour e Pão de Açúcar faturariam R$ 65 bilhões juntos
Poder de pressão sobre fornecedores seria outra arma da nova empresa
São Paulo – A eventual união do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil criaria uma máquina de varejo com faturamento de 65 bilhões de reais. A cifra seria praticamente o triplo dos 22 bilhões que o Walmart faturou no ano passado, de acordo com o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Na manhã desta terça-feira (28/6), Abílio Diniz, dono do Pão de Açúcar, oficializou a proposta de fusão com as operações da rede francesa no país. Se o negócio for avante, significará a união do primeiro e do segundo colocados no ranking da Abras, respectivamente. O Walmart, hoje terceiro colocado, ficaria numa distante segunda posição.
Do ponto de vista de Abílio, o acordo é uma tentativa de evitar a perda de controle do Grupo Pão de Açúcar. Sócio de Abílio na companhia desde 1999, o grupo francês Casino tem a opção de comprar as ações do empresário no ano que vem, tornando-se seu controlador – algo que Abílio, definitivamente, não quer.
Mas, além de ser uma manobra para manter Abílio no poder, a união do Pão de Açúcar com o Carrefour aumentaria o poder de negociação das redes, permitindo que negociassem grandes lotes de compra e, com isso, melhorassem os custos.
Num setor em que as margens são apertadas (ao redor de 3%), qualquer ganho de escala que permita conter custos é bem-vindo. Resta saber se os sócios de Abílio no Casino concordarão com a idéia.
Fonte: Exame 28/06/2011
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