Marcas e Empresas
Cheio de planos, BANUELOS esta de volta
Poucos investidores são cercados de tanta controvérsia quanto o espanhol Enrique Banuelos. Em meados da década passada, o bilionário número 854 nalista da Forbes levou sua incorporadora àbolsa e acabou se tornando símbolo do estouro da bolha imobiliária da Espanha - onde ainda é considerado, por muitos, perso- na non grata. Há cerca de seis anos, desembarcou no Brasil em busca de uma segunda vida nos negócios.
Sua primeira grande investida, no setor imobiliário, resultou na PDG, que hoje é uma das maiores incorporadoras do País. O problema é que parou por aí. Em maio do ano passado, Banuelos desistiu do que seria seu grande projeto no agronegócio, a Vanguarda Agro, em meio a uma disputa com os sócios. Sua empresa de investimentos, a Veremonte, perdeu seus dois principais executivos e deixou a Faria Lima para se instalar em um escritório menos pomposo, na Avenida Nove de Julho. Mas aos que acharam que suas ambições deste lado do Atlântico haviam chegado ao fim, Banuelos rebate: “Disse que ficaria 40 anos no Brasil. Ainda faltam 34”, diz.
O principal alvo do espanhol é, novamente, o mercado imobiliário. As empresas de capital aberto no setor estão baratas e enfrentam problemas financeiros e operacionais - o que, para ele, configura o cenário ideal para uma nova aposta. Banuelos tem conversado com os controladores das principais incorporadoras na bolsa e espera se tornar acionistare- levante de uma delas ainda neste ano. Desta vez, ele articula uma entrada consensual com os sócios para não reviver os problemas encarados em 2012.
Resistência.
O grande desafio do investidor será vencer a resistência do setor. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2011, Banuelos adquiriu três incorporadoras e as vendeu para a PDG, que se tornou, na época, a líder. Hoje, os maiores problemas operacionais da PDG estão exatamente neste grupo de empresas. “Banuelos é um investidor de curto prazo, e nisso ele é muito bom porque viu a oportunidade da consolidação”, diz um executivo que conviveu com o investidor. “Mas esse setor exige um olhar de longo prazo.
Até que seus novos planos se concretizem, Banuelos tem tocado proj et os independentes. A Veremonte Real State, braço da empresa de investimentos, trabalha no desenvolvimento de escritórios e galpões. Até o fim de março, o grupo deve entregar o edifício no Rio de Janeiro a ser ocupado pelo fundo de pensão Petros, de funcionários da Petrobrás. Em meados de 2012, a empresa terminou um prédio de escritórios em São Paulo para a fabricante de fragrâncias Symrise.
Soma-se a esse negócio a de- senvolvedora de shopping cen- ters Fitout, cujo controle foi adquirido pela Veremonte no ano passado. Seu primeiro empreendimento deve começar a ser construído em abril, na cidade catarinense de Itajaí. Como outros projetos de Banuelos, esse também tem ares superlativos. A ideia é trazer como sócios dois fundos locais, um estrangeiro e uma empresa americana de shopping centers.
A profusão de projetos é característica de Banuelos. No fim de 2010, o investidor planejava criar uma rede de clínicas de cirurgia plástica voltada para a classe C e trazer ao Brasil a companhia espanhola Natraceutical Group, fabricante de suplementos alimentares, mas nenhum dos negócios se concretizou. Segundo a Veremonte, esses planos encontraram entraves regulatórios e acabaram engavetados.
Agora, há uma enxurrada de novas intenções além do setor imobiliário. No segmento agropecuário, o investidor pretende criar uma empresa para o descarte de animais mortos aos moldes do sistema europeu. Na área de telecomunicações, ele pretende ampliar a operação da brasileira Medidata, empresa de sistemas de informação que passou a controlar no ano passado depois de adquirir 28% da espanhola Am- per. Segundo o Estado apurou, a Embraer tem interesse em ser sócia no negócio. Procurada, abrasileira não comentou o assunto.
Derrota.
Até o início do ano passado, o Brasil recebia a maior parte dos investimentos da Veremonte e as atenções de Banuelos estavam concentradas na Vanguarda Agro, empresa resultante da junção de três companhias. Ao articular as fusões, o investidor pretendia criar uma multinacional brasileira de capital aberto no setor de grãos, a exemplo das tradings Cargill e Bunge. Mas a relação tumultuada com os sócios frustrou seus planos.
O principal atrito foi a proposta de Banuelos para que as terras da empresa fossem alocadas em um fundo do qual a Veremonte seria gestora. Mas os sócios Silvio Tini, Otaviano Pivetta e os irmãos Hélio e Saio Seibel discordaram da taxas de administração e de valorização de terras que seriam cobradas e da participação de Banuelos nas duas pontas do O espasgou que co-de mercado sentido ser remunerado depois de seus investimentos iniciais.
Como não alcançaram um acordo, Banuelos se desfez de suas ações e deixou o negócio. “Ele é um visionário porque teve a ideia de criar a Vanguarda Agro”, diz uma pessoa próxima. “Mas muita gente discorda do seu jeito de fazer negócios.”
De volta à Europa. Depois da briga, Banuelos voltou-se à Europa e fechou dois grandes investimentos. Um deles é o Formula E, uma corrida de carros elétricos recém-criada pela Fédération Internationale de l Automobile (FIA). Os direitos comerciais do campeonato são de um consórcio internacional, em que Banuelos é o principal investidor.
O piloto brasileiro Lucas di Grasi tem participado das apresentações do evento, que começará em Londres, em 2014, e terá a final no Rio de Janeiro. Com carros fabricados pela McLaren, o evento tem sido apresentado como um incentivo à popularização dos carros elétricos e à redução nas emissões de carbono. “Estamos muito felizes de criar algo importante e ainda ganhar um dinheirinho”, diz Banuelos.
O outro empreendimento do investidor é o Barcelona World, um conglomerado com investimento inicial de US$ 6 bilhões, que terá parques temáticos, espaço para congressos e cassinos em Tarragona, cidade vizinha de Barcelona. Essa história começou quando a empresa de resorts Las Vegas Sands escolheu Madri, em vez de Barcelona, para desenvolver uma espécie de Las Vegas na Europa. Em resposta, o governo da Catalunha acabou fechando um projeto alternativo com Banuelos e a La Caixa, um dos maiores bancos da Espanha.
O BarcelonaWorld já foi anunciado oficialmente pelo governo da Catalunha, mas só começa a ser construído em janeiro de 2014, com início da operação previsto para daqui a dois anos. “Se tudo der certo, gostaria de fazer o mesmo no Brasil no futuro”, diz Banuelos. O investidor está de volta e continua o mesmo. Melina Costa
Fonte: O Estado de São Paulo 11/02/2012
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