Marcas e Empresas
Déficit do setor de alta tecnologia deve ultrapassar R$ 100 bi este ano
Se quiser efetivamente mudar o destino da indústria brasileira de alta tecnologia, o governo terá de agir rápido. A avaliação é de Roberto Nicolsky, diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), que divulga hoje amplo levantamento sobre a balança comercial da indústria.
No primeiro semestre deste ano, os segmentos de alta e média-alta tecnologia acumularam déficit comercial de R$ 38,6 bilhões - saldo que fica pior, se somado aos R$ 11,2 bilhões em déficit acumulado pelos serviços (como aluguel de equipamentos) contratados pela indústria. Este déficit foi 33% maior que em igual período de 2010 e, segundo a Protec, deve ultrapassar R$ 100 bilhões neste ano.
"Trata-se de uma calamidade", afirma Nicolsky, para quem uma desindustrialização no Brasil é "clara e cristalina". Segundo o especialista, os fabricantes brasileiros já passaram do período em que iam a China e outros polos industriais em busca de insumos mais baratos. "Agora o fabricante virou montador mesmo, estamos importando o produto pronto", diz.
No primeiro semestre, o saldo comercial brasileiro foi sustentado pelo superávit de R$ 31,5 bilhões registrado pelos exportadores de commodities. Entre os fabricantes industriais, apenas os produtores de bens com menos conteúdo tecnológico registraram ganhos nas trocas com o exterior. O superávit de R$ 20 bilhões registrado no primeiro semestre foi totalmente sustentado pelos segmentos produtores de bens com baixo conteúdo tecnológico, como alimentos.
Os fabricantes de bens com média-baixa tecnologia registraram superávit de apenas R$ 500 milhões entre janeiro e junho deste ano. E mesmo esse resultado só ocorreu devido à exportação da primeira plataforma de perfuração de petróleo produzida no Brasil, o que contribuiu para a construção naval registrar US$ 1 bilhão em conteúdo exportado.
O nó está no segmento de alto conteúdo tecnológico. São os fabricantes de produtos químicos, máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos, principalmente, os que respondem pelo enorme e crescente déficit comercial da indústria no ano.
Nicolsky é crítico da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que o governo vai criar dentro de um mês. "A nova empresa não é a Embrapa da indústria", diz ele, em referência à estatal criada no fim dos anos 1970 para desenvolver pesquisas agrícolas. Por chefiar a Protec, entidade mantida por 25 associações de classe da indústria, Nicolsky manteve conversas com interlocutores do governo durante o período de gestação da Embrapii.
"Enquanto a Embrapa é uma parceira das fazendas, no sentido de promover uma intensificação do uso de tecnologia na área agrícola, a Embrapii não é mais que um conjunto de laboratórios que já existem", afirma. (JV)
Fonte:valoreconomico12/09/2011
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