Marcas e Empresas
Dona da Panvel foge do assédio de compradores
A Dimed, empresa gaúcha que atua no setor farmacêutico, foi fundada há 38 anos e há 35 tem ações negociadas na bolsa. Apesar de listadas, as ações da empresa possuem liquidez mínima - ainda assim os papéis estão no radar dos investidores.
A Investidor Profissional (IP), gestora de recursos carioca, é sócia da empresa há 10 anos. Ano passado, a BR Pharma, rede de farmácias comandada pelo BTG Pactual, tentou comprá-la. E propostas de aquisição já chegaram também do exterior, conta o presidente Julio R. Mottin Neto.
"Um grupo estrangeiro fez uma oferta, mas ela não foi condizente com a perspectiva que enxergamos para a companhia no futuro. Acreditamos muito no negócio", afirma o executivo.
O alinhamento estratégico entre os acionistas mais antigos - três famílias que comandam a empresa e a IP - foi selado em janeiro, com a assinatura de um acordo de acionistas. Pelos termos, em um prazo de cinco anos, se algum dos quatro grupos de acionistas decidir vender ações terá de contar com a aprovação dos outros três, que têm preferência para a compra dos papéis. A única exceção está no caso de a IP ter de atender a solicitações de resgate de seus cotistas. Quando a gestora iniciou o investimento em Dimed, a ação ON valia cerca de R$ 5 e a PN, R$ 4. Atualmente, ajustados por dividendos, os papéis estão valendo R$ 139 e R$ 100, respectivamente.
A Dimed reúne 290 farmácias (a rede Panvel, que é líder no sul do país), além da distribuidora de medicamentos (que leva o nome Dimed) e de laboratório que apoia a operação de marcas próprias (Lifar). Atua no Rio Grande do Sul, onde é líder de mercado, Santa Catarina e Paraná.
Ano passado, a receita líquida da Dimed cresceu 13% em relação a 2010 e somou R$ 1,34 bilhão. O lucro líquido teve alta de 22% para R$ 37,4 milhões.
O negócio da empresa mistura drogarias com a produção própria de itens de higiene e beleza. Foi a primeira rede de farmácias do país a comercializar marca própria em suas lojas, em 1989. Desde 2007, esses produtos são vendidos também pela internet - filão que a empresa também pretende explorar com as suas linhas de produtos de beleza a preços baixos.
A empresa quer focar ainda seu crescimento orgânico no varejo por localidades da região Sul, sem grandes preocupações em transformar-se em um ator nacional. Crescer via aquisições está praticamente descartado.
"O setor de farmácias ainda tem muita informalidade. Há redes com passivos tributários e trabalhistas, que não justificam os preços pedidos pelos donos", afirma Mottin Neto.
Por ser uma companhia aberta e com balanços auditados, a Dimed acaba atraindo a atenção dos concorrentes. "Nesse segmento informal, já temos a casa de pé, por essa razão somos também muito cortejados", diz.
Uma oferta de ações e a adesão ao Novo Mercado, principal nível de governança da bolsa, também já foram oferecidos à empresa pelos bancos de investimento. Mottin Neto acredita que isso pode acontecer, mas ainda não é hora. "Daqui a dois ou três anos, talvez."
A razão para a empresa dispensar alternativas de financiamento para crescer também nacionalmente está na crença de que o processo de consolidação do setor de farmácias no Brasil ainda levará alguns anos.
"Não vejo necessidade imediata de captar. Temos recursos próprios e vamos continuar crescendo assim. O nosso foco é a manutenção da qualidade de nossas lojas", diz o executivo. Ele destaca que, enquanto nos Estados Unidos as cinco maiores redes concentram 80% do mercado. No Brasil, as cinco maiores têm 20%.
A opção pelo crescimento cuidadoso nas lojas Panvel vem de uma percepção dos executivos de que a classe C que ascende no consumo brasileiro não quer apenas comprar mais, mas também usufruir de bons serviços.
"O nosso foco na qualidade do atendimento, na escolha dos pontos para as lojas e na logística vem da observação que, no varejo, quem cresceu demais e não manteve o cuidado em serviço teve problemas e está fazendo o caminho inverso", afirma. Ele cita como exemplo os supermercados hipermercados, que estão agora querendo focar em lojas de menor porte. A intenção da empresa é aprimorar a sua rede farmácias, que hoje representa 70% de suas receitas.
"O atacado mantém as taxas, enquanto o varejo tem mais possibilidades de crescimento. Além disso, nessa operação em farmácias o pagamento é à vista e não a crédito, como no atacado, em que há risco maior", diz.
O empecilho para a expansão tem sido a dificuldade de encontrar bons pontos para abrir as lojas. Mottin Neto conta que antes as farmácias vendiam basicamente medicamentos e produtos de higiene. Agora, aumentaram a oferta para itens de perfumaria e cosméticos. "Cada vez mais atendemos ao mercado de beleza. Esse novo mix obriga as farmácias a ter área física maior", explica.
A exigência da empresa em buscar pontos que considere como excelentes para seu negócio tem sido uma crítica dos analistas à capacidade atual de expansão. O questionamento é se a empresa não deveria abrir mão um pouco de suas exigências para ampliar suas receitas mais rapidamente.
Na avaliação da Dimed, o cuidado na escolha dos pontos explica-se pelo fato de que uma farmácia pode demorar em média dois ou três anos para dar retorno ao investimento. Como o tempo de maturação é demorado, se o ponto escolhido for ruim, poderá pesar para os negócios.
"Tamanho grande não significa necessariamente boa rentabilidade", afirma Mottin Neto, reforçando que enxerga boas perspectivas para crescer regionalmente. Por enquanto, tem fechado parcerias para abrir farmácias em redes de supermercado e postos de combustíveis.
Os passos inicias da consolidação, ele explica, ao contrário de serem fonte de preocupação têm favorecido os negócios. A BR Pharma adquiriu no sul a Mais Econômica, principal concorrente da Panvel.
"Para nosso negócio, a aquisição foi muito boa. A concorrência agora tem de estar no mercado formal com nós e estamos e já estamos recuperando margens em algumas localidades do interior", diz. Na mesma avaliação, ele acredita que a profissionalização do segmento levará as pequenas a desaparecer, abrindo espaço no mercado. Por Ana Paula Ragazzi
Fonte: Valor Econômico 29/05/2012
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