Fundos de participações saem às compras
Marcas e Empresas

Fundos de participações saem às compras


Os fundos de private equity, que investem em participações em empresas, decidiram sair às compras em meio à “tempestade perfeita”. Enquanto a combinação de desaceleração da economia, juros em alta e desvalorização cambial assusta boa parte dos investidores, os gestores tentam aproveitar o momento para fechar negócios em condições mais atrativas.

As grandes gestoras com atuação no Brasil e América Latina voltaram a captar recursos no ano passado e devem levantar cerca de US$ 9 bilhões (R$ 24 bilhões ao câmbio de ontem) de investidores pelas estimativas de mercado.

Pelo menos cinco investimentos foram anunciados na reta final de 2014. O maior deles foi a compra do controle da Allied, empresa brasileira de distribuição de produtos na área de tecnologia, pela Advent International, em um negócio avaliado em R$ 1 bilhão.

A aquisição da Allied foi a terceira da gestora americana no país em 2014. Em novembro, a Advent fechou a captação de um novo fundo destinado a investimentos na América Latina, no valor de US$ 2,1 bilhões, o maior da história dedicado à região.

O Brasil deve ser um dos principais destinos dos recursos do novo fundo, segundo Patrice Etlin, sócio-diretor da Advent. O maior foco no país marca uma virada na estratégia da gestora, que nos anos anteriores vinha se desfazendo de participações em empresas brasileiras.

A desaceleração da economia, que se reflete no resultado das companhias, não deve diminuir o apetite dos fundos por aquisições. “Procuramos empresas em segmentos em transformação, com potencial de crescimento independentemente da questão macro”, afirma Etlin.

Além da Advent, algumas das principais gestoras de private equity com atuação no Brasil reforçaram o caixa ao longo do ano passado para realizar novas aquisições. Em julho, o Pátria Investimentos levantou US$ 1,8 bilhão e a Gávea Investimentos concluiu a captação de um fundo de US$ 1,1 bilhão em dezembro. Outras gestoras, como Vinci Partners e GP Investimentos, também devem voltar a mercado neste ano.

O Pátria participou de duas aquisições no fim do ano passado. Na área de infraestrutura, em que atua por meio da P2 Brasil, uma associação com grupo Promon, fechou um aporte na Tecnogera, que fornece energia temporária para o setor corporativo. E, ao lado da americana Blackstone, adquiriu quatro prédios comerciais no Rio de Janeiro, por R$ 700 milhões.

Os negócios realizados por Advent e Pátria têm pelo menos uma característica em comum: ambos contaram com outro fundo na ponta vendedora. Enquanto a participação na Allied foi adquirida da One Equity Partners (OEP), gestora ligada ao J.P. Morgan, os edifícios no Rio que agora compõem o portfólio de Pátria e Blackstone pertenciam a um fundo imobiliário do Opportunity.

Com a chegada de grandes gestoras internacionais ao país recentemente, a expectativa é que novos negócios do tipo surjam neste ano. A falta de alternativas de saída para os fundos também deve estimular a negociação de empresas entre gestoras.

Além da conjuntura desfavorável, a nova rodada de investimentos em private equity deverá remar contra a corrente cambial. A alta do dólar prejudica o retorno dos grandes fundos, que captam a maior parte dos recursos no exterior e precisam entregar retorno na moeda estrangeira. Mas para os gestores, o resultado obtido pelas companhias mais do que compensará a tendência de desvalorização do câmbio no longo prazo.

Embora prejudique o retorno no momento da saída, a valorização do dólar aumenta, por outro lado, o poder de fogo dos fundos nos novos investimentos e torna os alvos de aquisição relativamente mais baratos.

Se há três anos, no auge da euforia com o país, havia um sentimento quase generalizado de que o país estava “caro”, o consenso hoje é que os ativos brasileiros estão mais atrativos. Os fundos, em particular, também ganham com a menor concorrência de outras fontes de recursos, em meio ao mercado de capitais praticamente fechado para ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) e o crédito bancário mais restrito.

Embora não veja mais barganhas no mercado brasileiro, Patrick Ledoux, sócio do escritório local da gestora britânica Actis, diz que há boas oportunidades para negócios em private equity em patamares “justos”.

Com US$ 6 bilhões sob gestão e foco em empresas de médio porte, a Actis fechou dois negócios no país nos últimos dois meses: o investimento em três corretoras de seguros para a criação de uma holding e um aporte no Genesis Group, companhia paranaense que realiza testes, inspeções e certificações de produtos para o setor agropecuário.

Apesar da visão positiva para o país e do apetite por negócios, a desaceleração da economia deve tornar os fundos mais seletivos nas aquisições. “O mercado deve passar por um período mais difícil nos próximos dois anos”, afirmou Christopher Meyn, sócio da Gávea, em entrevista em dezembro sobre a captação do novo fundo.

A Gávea pretende investir em setores menos sensíveis à instabilidade de curto prazo, como saúde e logística, segundo Meyn. Na área de consumo, grande aposta dos fundos nos anos anteriores, a tendência também é de busca por companhias mais “defensivas”, ou seja, que consigam crescer e repassar para os preços eventuais aumentos de custos.

A melhora operacional e o aumento das receitas nas companhias investidas será responsável pela maior parte do retorno dos novos investimentos dos fundos, de acordo com estudo da PwC e da escola de negócios Insead. O lado operacional deve ser responsável por 83% do ganho obtido nos investimentos, segundo o levantamento. O percentual supera os 70% da pesquisa anterior, realizada em 2011.

Com a alta dos juros, o uso de dívida em aquisições, outra forma usada pelos fundos para aumentar o retorno, deve diminuir. Conforme o estudo da PwC e Insead, os gestores esperam que apenas 3% dos ganhos venham de operações de alavancagem. Para efeito de comparação, no exterior 33% do retorno dos private equity vem do uso de dívida, de acordo com a pesquisa. “As conversas com os fundos diminuíram bastante nos últimos meses”, diz o executivo de um grande banco que atua no financiamento de aquisições. Fonte: Valor Econômico Leia mais em tbs 08/01/2015



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