Marcas e Empresas
Fundos Private têm muito caixa e poucos negócios
De caixa cheio, fundos imprimem ritmo lento aos negócios
Os fundos de "private equity" exibiram uma baixa agressividade na compra de participações de empresas no Brasil, ao contrário do que faziam supor as fortes captações de quase US$ 13 bilhões nos últimos dois anos. Mesmo com a recente compra da rede varejista de brinquedos Ri-Happy pelo Carlyle - a primeira do fundo de US$ 1 bilhão levantado em junho - e de vários negócios em andamento, os gestores têm atuado com cautela, em um ritmo mais lento que o esperado. Outras grandes firmas, como a Advent, a GP Investimentos e a Southern Cross, também anunciaram apenas uma aquisição cada uma
Depois de levantarem quase US$ 13 bilhões nos últimos dois anos para investir na compra de participações em empresas, os grandes fundos de private equity (ver quadro) têm frustrado as expectativas de quem esperava um maior apetite pelos negócios. Diante da concorrência do capital de empresas interessadas em aquisições, linhas de crédito de bancos e do mercado de capitais, os gestores optaram pelo conservadorismo, pelo menos até o momento.
Mesmo com a recente compra da varejista de brinquedos Ri Happy pelo Carlyle - a primeira do fundo de US$ 1 bilhão captado em junho passado - e de vários negócios em andamento, os gestores seguem em um ritmo mais lento do que o esperado. Conforme o tempo passa, aumenta a pressão para que o dinheiro dos investidores seja aplicado.
A Advent, uma das grandes firmas, que levantou US$ 1,650 bilhão em seu quinto fundo com foco em investimentos na América Latina em 2010, até o momento anunciou apenas uma aquisição no país. A GP Investimentos, que há pouco mais de dois anos captou US$ 1,050 bilhão, também realizou apenas uma nova aquisição. Com capital comprometido de US$ 1,7 bilhão, o fundo da Southern Cross é outro que anunciou apenas um negócio no Brasil.
A maior dificuldade dos grandes fundos em busca de novos negócios é visto como uma espécie de "efeito colateral" do crescimento econômico recente do país e dos resultados expressivos obtidos pelos fundos de private equity na década passada. Os gestores foram premiados pelos negócios que realizaram nos anos de vacas magras, ao investirem na baixa e encontrarem a porta de saída aberta durante a fase de explosão dos IPOs na bolsa, cujo ápice ocorreu em 2007.
Os altos retornos atraíram tanto investidores como novas gestoras para o mercado brasileiro. Uma delas é a gigante TPG Capital, com patrimônio de US$ 49 bilhões, que no ano passado contratou o executivo Denis Jungerman, que estava no Credit Suisse, para tocar o escritório no país.
Com mais dinheiro disponível e um menor grau de incerteza na economia, a possibilidade de encontrar pechinchas diminuiu. No mercado, havia a expectativa de que os gestores aproveitariam o agravamento da crise externa durante o segundo semestre do ano passado para fechar negócios em condições melhores, o que acabou não ocorrendo.
Apesar da maior concorrência, a demanda por capital ainda é grande no país, o que representa uma oportunidade para os fundos que investem na compra de participações em empresas, de acordo com Marco D"ippolito, sócio do Pátria Investimentos. "A necessidade de recursos das companhias é muito maior do que a captação de todos os fundos", afirma.
No ano passado, o Pátria fechou a captação de dois fundos, um deles voltado especificamente para o setor de infraestrutura, que juntos totalizam US$ 2,25 bilhões. No fundo tradicional, de US$ 1,25 bilhão e levantado em apenas oito meses, a gestora realizou uma aquisição até o momento, cujo nome não foi revelado.
Embora tenha ingressado no clube dos gestores bilionários, a firma não pretende concorrer pelas empresas de grande porte. Para D"ippolito, será um "desafio" para os fundos com foco em aquisições maiores apresentarem retornos consistentes aos cotistas, já que essas companhias hoje estão bem avaliadas.
Mas na visão do sócio de outra gestora, que concorre pelas grandes aquisições, o problema não está no porte das companhias. Um sinal de que as empresas maiores não estavam com preços elevados, segundo o executivo, é o desempenho recente da bolsa, que acumula uma alta de quase 30% em dólar neste ano. "São os negócios óbvios, apresentados por bancos de investimento a vários candidatos a compra, incluindo os fundos, que estão caros, independentemente do tamanho", diz.
Para o sócio de uma gestora que captou um fundo bilionário, e que também pediu para não ser identificado, a falta de flexibilidade de algumas firmas, que procuram assumir apenas posições de controle nas empresas investidas, dificulta os investimentos. Diante do obstáculo, alguns gestores já teriam mostrado a disposição de abrir mão desse dogma em negociações recentes.
"Com muito dinheiro para aplicar ao mesmo tempo, os fundos que buscam controle estão batendo um pouco de cabeça, vendo os preços irem lá pra cima", afirma. Por outro lado, ele considera que a postura conservadora está correta, ou seja, é preferível não investir a comprar ativos caros.
Após as captações recentes, o mercado brasileiro de private equity ficou bastante aquecido, mas não a ponto de haver dificuldades em se conseguir boas oportunidades de investimento, na avaliação do vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Luiz Eugenio Figueiredo. "Alguns segmentos estão mais aquecidos que outros, mas não a ponto de os preços estarem em patamares irreais", afirma.
Para Figueiredo, que também é sócio da Rio Bravo, os gestores de private equity são conservadores "por natureza". "Como os fundos possuem um prazo maior para investir, os próximos dois anos devem ser marcados pela alocação do capital levantado recentemente", diz.
Com o mercado favorável aos vendedores, alguns fundos aproveitam para se desfazer de posições. Recentemente, a Qualicorp anunciou que pretende realizar uma oferta de ações que pertencem aos sócios, entre eles o Carlyle. No ano passado, os fundos de private equity aproveitaram a janela de oportunidade durante o primeiro semestre para embolsar R$ 1,8 bilhão com a abertura de capital de empresas do portfólio. Por Vinícius Pinheiro Colaborou Carolina Mandl
Fonte:ValorEconômico06/03/2012
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