Marcas e Empresas
Gêmeos do Facebook viram magnatas do bitcoin
Desafetos de Zuckerberg, irmãos Winklevoss despontam como os maiores apostadores da moeda virtual, que teve valorização de 628% em um mês, e vem agitando Wall Street
Cameron e Tyler Winklevoss foram muitas coisas num curto espaço de tempo: remadores olímpicos, adversários de Mark Zuckerberg no Facebook e até personagens de Os Simpsons. Agora, eles ganharam um novo rótulo: de magnatas do bitcoin (moeda virtual trocada por pessoas anônimas na internet). Os gêmeos idênticos, de 31 anos, juntaram desde o último verão americano o que parece ser um dos maiores portfólios particulares da moeda online que causa tanto alvoroço em Wall Street e no Vale do Silício. Trata-se de uma quantia de US$ 11 milhões - ou ao menos tratava-se até a manhã de quinta-feira passada, quando as negociações foram temporariamente suspensas após uma queda abrupta ter levado o preço de 1 bitcoin para US$ 120 e seu mercado inteiro para US$ 1,3 bilhão. O valor da moeda (que no intervalo de um mês subiu de US$ 35 para US$ 255) chegou a cair 60%.
Para os céticos, a agitação em torno da rede do bitcoin se parece mais com a euforia especulativa das tulipas na Holanda dos anos 1600, quando o preço exorbitante da flor levou a uma crise, do que com o começo de uma moeda real. "Dizer que ela é altamente especulativa seria o eufemismo do século", diz Steve Hanke, professor da Universidade Johns Hopkins especializado em moedas alternativas.
Seja lá o que for, o bitcoin se tornou o fenômeno financeiro do momento. Além dos gêmeos, empresas de investimento de risco do Vale do Silício estão começando a mostrar interesse pela tecnologia, embora não usem a moeda. Na semana passada, um grupo de investidores, incluindo Andreessen Horowitz, anunciou que estava financiando a jovem empresa OpenCoin, que está desenvolvendo um sistema global de pagamento virtual.
Para os irmãos Winklevoss, o tumulto nas negociações da semana passada são apenas os efeitos colaterais de uma moeda digital que eles acreditam que se tornará uma espécie de ouro para os especialistas em computação. "Alguns dizem que é um esquema de pirâmide, uma bolha", disse Cameron Winklevoss. "Alguns realmente não querem levá-la a sério. Em algum ponto, essa narrativa vai mudar para 'as moedas virtuais vieram para ficar'. Estamos nos primórdios."
Aposta. Embora pouco se saiba sobre o criador (ou criadores) do bitcoin, é perceptível que o trabalho exigiu um alto nível de programação. O sistema se sustenta a partir de computadores 'emprestados' ao redor do mundo - usuários com máquinas potentes cedem seu poder de processamento para a rede.
Esse espaço virtual pode abarcar uma quantidade finita de moedas (21 milhões), que hoje está ao redor de 11 milhões. Novas moedas são "garimpadas" quando programadores resolvem problemas matemáticos. Eles podem, então, iniciar novas relações de troca.
Por enquanto, poucas empresas reais aceitam bitcoins como pagamento. Mas os defensores da moeda acreditam num futuro em que o dinheiro virtual possa ser usado no Starbucks.
Os Winklevoss usaram parte de seus bitcoins para pagar os serviços prestados por um programador ucraniano que trabalhou no site deles. "Escolhemos colocar nosso dinheiro e nossa fé num arcabouço matemático que é livre de política e de erro humano", disse Tyler.
O bitcoin não é a primeira aposta dos irmãos numa tecnologia emergente. Quando eram alunos de Harvard, eles fundaram a rede social ConnectU e contrataram o colega Mark Zuckerberg para ajudá-los a criar a companhia. Depois que Zuckerberg saiu para iniciar o Facebook, os irmãos o processaram, acusando-o de roubar sua ideia. O caso foi acertado, e os irmãos receberam US$ 20 milhões em dinheiro e ações do Facebook que hoje valem mais de US$ 200 milhões.
Segurança. Os irmãos começaram a se aventurar no bitcoin no meio do ano passado, quando o valor em dólar de cada moeda ainda era de um dígito. Para manter suas posses protegidas de hackers, os gêmeos retiraram esses códigos complexos de qualquer computador conectado em rede, salvaram-nos em pen drives e guardaram esses pen drives em cofres de segurança em bancos de três cidades diferentes.
É difícil verificar se as posses dos Winklevoss se comparam às de outros negociadores, dado o anonimato das contas. E os gêmeos acreditam que alguns dos primeiros usuários do sistema provavelmente têm contas tão grandes quanto as suas.
Durante a oscilação de preços na última semana, eles disseram ter aproveitado para comprar mais bitcoins a valores mais baixos. "Ele (o bitcoin) tem apenas quatro anos e ainda não foi desacreditado como uma alternativa viável ao papel-moeda", disse Tyler Winklevoss. "Podemos estar redondamente enganados, mas estamos curiosos para ver isso avançar um pouco mais." / TRADUÇÃO CELSO PACIORNIK
Fonte: estadao 15/04/2013
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