Marcas e Empresas
Múltis avançam em genéricos no Brasil
Participação de farmacêuticas estrangeiras no segmento de medicamentos cresce de 12% para 40% em três anos
Crescimento do país, políticas públicas e expiração de patentes empurram empresas para mercado brasileiro
Multinacionais farmacêuticas já detêm 40% do mercado de genéricos no Brasil. Há três anos, essa fatia era de apenas 12%, segundo dados da Pró Genéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos).
A "desnacionalização" do setor se acirrou a partir de 2009, com a compra do laboratório Medley pela francesa Sanofi-Aventis, por R$ 1,5 bilhão. De lá para cá, ao menos outras quatro aquisições (veja quadro) foram feitas, e a procura por novos negócios continua acirrada.
"Há conversa para todos os lados. Não só de compra, mas também de acordos de transferência de tecnologia e de outras parcerias", diz Odnir Finotti, da Pró Genéricos.
Três empresas, a italiana Zambom, a suíça Ferring Pharmaceuticals e a dinamarquesa Nycomed, planejam investimentos e parcerias no Brasil. Mas, segundo analistas, está difícil fechar negócios, pois os preços dos ativos farmacêuticos dispararam.
"Já tentamos fazer aquisição de cinco ou seis empresas, mas ainda não deu certo. Estou há 30 anos no mercado farmacêutico e nunca vi nada igual", afirma Wilson Borges, presidente da Zambom do Brasil.
Segundo ele, a empresa deve fechar em outubro parceria para licenciar de quatro a cinco produtos -por razões contratuais, ele não pode revelar detalhes do negócio.
INTERESSE
O crescimento econômico brasileiro, o aumento do poder de compra, especialmente nas classes C e D, e as políticas governamentais de acesso a remédios são razões que explicam o interesse no país, hoje o segundo mercado que mais cresce no mundo -só perde para a China.
As farmacêuticas internacionais, por sua vez, precisam buscar alternativas de mercado, já que têm reduzido seu portfólio de produtos de inovação e suas patentes de medicamentos "blockbusters" (campeões de venda) estão em processo de expiração.
"Ninguém é melhor para copiar que o próprio autor. Se você juntar a dificuldade de descoberta de novos medicamentos e o fato de que o mundo inteiro vai ter genéricos, nada mais óbvio que investir em genéricos", diz Antonio Brito, presidente de Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).
O mercado de genéricos faturou R$ 6,2 bilhões em 2010, alta de 37,7% ante o ano anterior, segundo balanço divulgado pelo IMS Health, instituto que audita o desempenho da indústria farmacêutica no Brasil e no mundo.
O setor movimenta 21,3% dos volumes totais de remédios no país e 17% em valor. Nos EUA, o volume de genéricos chega a 70% do total.
Para Finotti, ainda há folga para crescimento do setor. "A participação de genéricos na venda total de medicamentos deve atingir até 50% nos próximos anos."
Brito, porém, não é tão otimista. "A onda do 'cheguei, tem mercado novo e ocupei' já teve melhores dias. A concorrência com a Índia e a China está muito violenta."
BIOLÓGICOS
Um outro mercado que ganha a cada dia mais interesse das multinacionais é o de medicamentos biológicos, que, no fim do ano passado, passou a ter nova regulamentação no país.
Em abril deste ano, a americana Amgen anunciou a aquisição da brasileira Bergamo por US$ 215 milhões.
Na contramão, empresas brasileiras miram exterior
Enquanto as múltis farmacêuticas miram o Brasil, as empresas nacionais planejam aquisições fora do país.
A EMS, a maior farmacêutica brasileira, tem centros de operação na Itália, na Espanha e em Portugal e distribui seus produtos para um total de 30 países.
A meta da empresa, que faturou R$ 3,3 bilhões no ano passado, é entrar no mercado norte-americano.
Segundo Waldir Eschberger, vice-presidente de mercado do grupo, a EMS aguarda a aprovação do FDA (agência americana reguladora de fármacos e alimentos) para instalar uma fábrica nos EUA.
"No Brasil, já consolidamos a nossa posição. Estamos há cinco anos na liderança [do mercado]. Agora nosso negócio é ir para fora. Às vezes, em momentos de crise, é a melhor hora para entrar nesses países."
No Brasil, a EMS vai se concentrar no desenvolvimento de produtos exclusivos. A empresa possui hoje um dos maiores centros de pesquisa e inovação, com 238 profissionais, e investe 6% do faturamento no desenvolvimento de novos fármacos.
O Cristália, maior detentor de patentes entre os laboratórios brasileiros (28), deve anunciar nos próximos meses novas aquisições no Brasil e no exterior.
"Isso deve aumentar a nossa participação tanto em princípios ativos como em produtos terminados", afirma o presidente da empresa, Ogari de Castro Pacheco.
O laboratório é líder na América Latina na produção de anestésicos e também é o único brasileiro que fabrica antirretrovirais para o Programa Nacional de Aids (da matéria-prima ao produto acabado).
Fonte:FolhadeSP28/08/2011
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