Marcas e Empresas
Moody's dá sinal negativo ao rating do Brasil
Protesto contra Dilma: a deterioração das condições econômicas e o crescente descontentamento social aumentam a incerteza sobre as perspectivas
O sinal dado pela agência de classificação de risco Moody's, em relatório publicado na noite de quarta-feira, 18, deixa a sensação de que o Brasil poderá não escapar de um rebaixamento da sua nota no curto prazo.
E vai além: desautoriza o esforço que o Ministério da Fazenda vem fazendo em difundir a noção de que o ambiente melhorou em relação à visita dos representantes de outra agência de rating, a Standard & Poor's (S&P), há duas semanas.
Mais ainda: o relatório da Moodys dá ênfase não apenas ao ajuste fiscal, mas também à recuperação da confiança dos investidores como condições importantes para a avaliação da qualidade do crédito soberano do Brasil, sob o título "Os protestos no Brasil complicam esforços de consolidação fiscal".
"Descontentamento social e político é negativo para o crédito do Brasil (Baa2, perspectiva negativa), pois complica os esforços do governo para restaurar a confiança do investidor e alcançar a consolidação fiscal, dois elementos que a Moodys considera críticos para melhorar a qualidade de crédito do Brasil", afirma a nota assinada pelo principal analista para o Brasil da agência, Mauro Leos.
"Taxas baixíssimas de aprovação para um presidente em exercício provavelmente irão minar seu posicionamento nas negociações com o Congresso."
Além dos protestos que levaram mais de 1 milhão de brasileiros às ruas no domingo passado, 15, a Moody's destacou o resultado da pesquisa do Datafolha que mostrou a queda forte da aprovação do governo Dilma Rousseff.
Segundo o instituto, a avaliação ótima ou boa para o governo caiu de 23% em fevereiro para 13% na pesquisa divulgada na quarta-feira, enquanto a avaliação ruim ou péssima subiu de 44% para 62%.
Segundo a Moody's, a deterioração das condições econômicas e o crescente descontentamento social aumentam a incerteza sobre as perspectivas para o Brasil no curto prazo, "adicionando potencialmente pressão sobre à confiança de empresários e consumidores", os quais já estão em níveis recordes de baixa.
"Acreditamos que a baixa confiança vai continuar pesando sobre o investimento privado, levando a uma deterioração adicional do crescimento do PIB", afirma a nota da Moodys.
A agência agora espera uma contração de 1% da economia brasileira em 2015, depois de um PIB zero em 2014.
Grau especulativoNesta semana, a equipe econômica está recebendo a visita dos representantes da Fitch Ratings e o discurso das autoridades brasileiras é de confiança de que convencerá a agência a não piorar a avaliação de crédito soberano do País.
A S&P atribui a nota mais baixa ao rating soberano do Brasil: BBB- com perspectiva estável.
Um novo corte jogaria a classificação de risco brasileira para a categoria de grau especulativo, ou "junk". A Fitch Ratings avalia o Brasil um grau acima da S&P, com nota BBB e perspectiva estável.
Já a Moody's tem uma avaliação do crédito brasileiro num patamar semelhante à da Fitch, atribuindo classificação Baa2, mas tem uma perspectiva negativa, ou seja, há o risco de que o seu próximo movimento seja de "downgrade", ou rebaixamento da nota.
A Moody's e a Fitch têm gordura a queimar e podem se mostrar menos pacientes do que a S&P em relação às condições políticas e econômicas do Brasil.
As agências passaram a ficar mais pacientes com o Brasil após a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, o que melhorou a percepção da disposição do governo em apertar a política fiscal, atingir um maior superávit primário em comparação a 2014 e estabilizar a relação dívida/PIB.
DesafioPor outro lado, a disposição do Brasil de fazer um ajuste fiscal pode ter aumentado com a entrada de Levy no governo, mas a capacidade de atingir as metas diminuiu, com a perspectiva de contração maior da economia.
Na última pesquisa Focus realizada pelo Banco Central com investidores e divulgada na segunda-feira, 16, a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2015 passou de uma contração de 0,66% para queda de 0,78%.
E várias instituições financeiras vêm revisando para baixo suas estimativas para a economia brasileira não somente em 2015, como também para 2016. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Fábio Alves, do Estadão Leia mais em Exame 20/03/2015
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