Marcas e Empresas
O Brasil na mira das consolidações
O mercado brasileiro bate novo recorde de fusões e aquisições, e o setor de TI segue na liderança em número de operações; esta dinâmica tem evidenciado o amadurecimento das empresas que se lançam neste contexto e a demanda por consultorias especializadas em F&A cresce junto
O refrão do mercado brasileiro de TI é o franco processo de consolidação que atravessa. E as transações de Fusão e Aquisição (F&A), operações de investimento que visam retorno no médio e no longo prazo, são realmente mais incentivadas quando se tem um risco econômico menor, com tendências de crescimento. Este é o caso do Brasil, desde que se recuperou de forma ágil do último solavanco econômico que o mundo passou, em 2008.
Outro ponto a favor do mercado brasileiro neste sentido é que o País possui ativos de bastante qualidade e isso gera uma disputa no mercado. Tanto nacional, quanto internacionalmente.
Na prática, porém, algumas questões devem ser vistas. A máxima que diz que santo de casa não faz milagre, ou seja, as melhores soluções nem sempre partem de dentro de casa, vale para o cenário aquecido F&A no Brasil. As brasileiras demandam de maneira também crescente o auxílio de consultorias na hora de comprar e vender.
Saber tocar um negócio não indica que, necessariamente, o empresário vá saber vendê-lo. E resolver isso é uma crescente demanda da V2 Finance, consultoria independente de finanças corporativas, com sede em São Paulo.
“É muito diferente você saber tocar o seu negócio e vender a sua empresa”, afirma Acácio Alves, sócio da V2 Finance. “E outro dado importante é que no momento em que está negociando sua empresa, a pior coisa que você pode fazer é tirar o olho do seu negócio para ficar pensando em cláusulas, contratos e negociações.”
O conselho é não fazer sozinho. Alguns dos clientes que batem à porta da V2 Finance foram procurados por algum investidor e, por nunca terem vendido uma empresa antes, não sabem como fazer. Outros, ainda, precisam de capital e não querem deixar a empresa, então procuram um investidor.
A boa notícia é que fazer sozinho não parece estar mais na mira dos empresários. A demanda da V2 Finance tem crescido bastante, segundo Alves. Outro ponto que também está sendo superado é o estigma associado à venda de empresas, de que elas são vendidas porque estão quebrando ou porque tiveram uma má gestão. Houve o tempo em que as empresas que eram negociadas, eram vendidas na bacia das almas, mas hoje isso não passa de mito, uma vez que as negociações são feitas na grande maioria com empresas que têm sucesso de fato ou potencial.
Principalmente no mercado de TI, onde há grande necessidade de capital de giro, o que leva geralmente uma empresa ao balcão das fusões e aquisições é a necessidade de capital para investir em desenvolvimento ou para conseguir maior escalabilidade. O que acontece, com maior ênfase no setor de tecnologia, onde a dinâmica oferecida por empresas menores e uma alta valorização do capital intelectual, é que diante de uma situação onde é preciso investir, a opção do empresário é vender parte do capital social da empresa, ou seja, ele traz o investidor para dentro da sociedade.
“Acaba sendo uma operação de fusão e aquisição, mas o empresário não sai de lá”, explica Alves. O investidor quer o empresário lá, porque ele é o capital intelectual. Então este investidor quer comprar ao menos uma parte da empresa para injetar capital e potencializar o crescimento. A opção de trazer um sócio é, muitas vezes, uma alternativa às altas taxas de juros dos bancos.
Outro tipo de investidor é o que chega para profissionalizar a gestão da empresa. O que muitas vezes acontece em empresas menores, como é o caso da maioria das empresas de TI, é que o empresário acaba deixando de investir tempo no foco da estratégia do negócio para cuidar de questões de RH, por exemplo.
“Existem fundos de investimentos que trazem pessoas para cuidar da gestão do dia a dia”, explica Alves. “E a estratégia fica na mão do empresário, que conhece o setor e os clientes muito bem.”
Por outro lado, existe um equívoco a respeito da profissionalização da gestão. Alves aponta que comumente no mercado o termo é acompanhado da expectativa de demissões. “Muitas pessoas pensam que profissionalizar a gestão é demitir todo mundo e trazer um pessoal formado em Harvard”, brinca Alves. “Mas, diferente disso, profissionalizar a gestão é identificar melhores processos, rotinas e procedimentos para gerir a empresa. A ideia é dar ferramental para que os funcionários melhorem a gestão da empresa.”
Dificuldades
Os processos de F&A, que duram de seis meses a um ano e meio, em média, enfrentam dificuldades no País por conta da maturidade contábil das empresas, segundo Alves. Uma das coisas que mais dificulta uma transação é quando a organização não tem a contabilidade auditada ou governança corporativa.
“Principalmente no mercado de TI, a principal contingência é a trabalhista, onde há funcionários com regime de contratação diferente do CLT”, afirma Alves. “E isso muitas vezes emperra a negociação por conta do risco trabalhista que envolve.”
Por outro lado, apesar de algumas dificuldades burocráticas,
segundo Ruy Moura, diretor da consultoria empresarial Acquisitions, não há limite de idade para que uma empresa seja comprada, por exemplo. “O espectro de aquisições é amplo: mesmo desde uma recém startup de sucesso”, afirma Moura. “E isso já vimos com empresas com poucos meses sendo vendidas por milhões de dólares. Por conta de acertar na ideia e ajustá-la à demanda latente neste mundo dinâmico da tecnologia.”
Recorde Os nove primeiros meses deste ano foram os melhores na série histórica em números de fusões e aquisições no Brasil, segundo a KPMG. Ao todo, forma 606 operações entre janeiro e setembro de 2011, resultado que superou em 14% o obtido no mesmo período do ano passado.
O setor de TI, que tradicionalmente lidera as listas de operações – em número de negociações –, se manteve à frente, com 66 transações nos primeiros três trimestres do ano. “Trata-se de um setor onde a criação de empresas exige um investimento menor do que em segmentos como siderurgia, por exemplo”, explica Luis Motta, sócio da área de assessoria em fusões e aquisições da KPMG no Brasil. “E por ser um mercado dinâmico, o caminho natural por onde estas empresas buscam investimento é o de operações financeiras até o momento em que estas empresas são compradas ou se tornam a plataforma de consolidação.”
Embora o mercado em geral esteja batendo recorde, o setor de TI – ainda que bem adiante do segundo colocado, Mídia e Telecomunicações, com 44 transações –, não teve o melhor resultado de todos os tempos. Nos nove primeiros meses de 2010, o setor viu 72 transações, segundo a KPMG. A principal explicação é que o setor se recuperou rápido da crise e mantém crescimento acelerado, portanto, a base de comparação é suficiente para não se ter quebra de recorde apesar da liderança.
Entre as 606 operações do início do ano até setembro, segundo a KPMG, 157 transações foram de empresas estrangeiras adquirindo brasileiras no País. Empresas estrangeiras adquirindo estrangeiras estabelecidas no Brasil, somaram 82 acordos. Já empresas brasileiras adquirindo estrangeiras no exterior somaram 47 transações e empresas brasileiras adquirindo estrangeiras no Brasil tiveram 21 operações.
Fonte:crnitweb08/11/2011
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