Marcas e Empresas
O futuro é das garagens
Saem as bandas e entram as start-ups. O boom de empresas digitais no Brasil deve acelerar em 2012 graças ao bom momento econômico.
O casal Juliano e Mônica Ipolito, ambos com 36 anos, fundou uma start-up em 2008, em Campinas, no interior de São Paulo. Batizada de Elo7, a empresa mantém um canal online para compra e venda de artesanato. Até o início de 2011, o site de comércio eletrônico tinha como força de trabalho somente os dois sócios. Foram tempos de longas jornadas e um esforço hercúleo para os dois. A recompensa, no entanto, não tardou. Em três anos, Juliano e Mônica construíram uma comunidade virtual que oferece atualmente mais de 1,5 milhão de produtos feitos por cerca de 65 mil artesãos de todo o País. Com os negócios caminhando bem, a empresa, embora ainda pequena, atraiu a atenção de gente grande. É o caso, do Monashees Capital e do Accel Partners, importantes fundos de capital de risco do Brasil e do Vale do Silício, nos EUA, respectivamente, investidores de companhias graúdas como Facebook, Peixe Urbano e Groupon. “Ficamos surpresos quando fomos procurados”, diz Juliano. “Não pensávamos que precisaríamos de dinheiro de investidores.” Apesar da hesitação inicial, a Elo7 cedeu às investidas seis meses depois, e o reforço na operação não tardou. Hoje, a empresa conta com nove funcionários e planeja contratar pelo menos outros 11 nos próximos meses.
Para conduzir a Elo7 em sua nova etapa, os sócios têm agora o apoio de um CEO. Trata-se de Carlos Curioni, executivo que até então era diretor de operações do argentino Mercado Livre, o maior site de comércio eletrônico, em audiência, da América Latina. Curioni foi contratado por recomendação dos fundos de investimento. A decisão de trocar uma empresa consolidada por uma iniciante foi motivada pelo futuro promissor que ele enxerga nesse segmento ainda pouco explorado online. O Brasil tem 8,5 milhões de artesãos e movimenta mais de R$ 28 bilhões nesse setor. “Hoje, apenas 2% desse segmento está na internet”, afirma Curioni. “O potencial é gigantesco. E estamos muito confiantes.” E, se você também tem uma boa ideia, invista nela desde já.
Muito mais do que uma exceção, a súbita reviravolta na trajetória da Elo7 ilustra bem o momento positivo da indústria pontocom brasileira. O cenário nunca esteve tão propício para quem quer montar uma start-up no País. Dados do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV-Eaesp mostram que o investimento estrangeiro em companhias nacionais sobe velozmente. Em 2009, os ativos sob gestão no País chegaram a US$ 36 bilhões. Em 2004, eram US$ 6 bilhões. Já o montante destinado aos negócios embrionários chegou a US$ 2,5 bilhões em 2009. É evidente que ainda há muito a ser feito nesse campo. Não se pode desconsiderar, porém, que, ao longo dos últimos 12 meses, um ecossistema de empreendedorismo digital começou a ganhar contornos mais claros e sólidos no Brasil. Ele é formado por grandes fundos nacionais e internacionais, mas também por governo e empresas privadas. Há ainda o apoio de investidores-anjos, os empresários endinheirados que investem em start-ups.
Isso sem falar nas entidades e instituições que incentivam o empreendedorismo, como a Brazil Innovators e a Aceleradora. É um movimento que despontou em 2009, ganhou tração ao longo dos últimos anos e promete transformar o Brasil em um grande celeiro – ou garagem, para usar um termo mais comum nesse meio – de empresas de tecnologia e internet. Como se não bastasse, entramos definitivamente na rota de qualquer negócio online com pretensões globais. Não por acaso, Facebook, LinkedIn, Amazon, iTunes e Netflix iniciaram as operações ou abriram escritórios no País em 2011. Mas nada disso seria suficiente se não houvesse um número cada vez maior de executivos e empreendedores brasileiros com boas ideias e disposição para fazer esse ecossistema crescer. Nesse grupo, há gente como Luciano Frezzatto, Bruno Branta, André Nazareth e Danilo Campos, quatro amigos recém-formados em engenharia da computação na Unicamp.
Todos na faixa dos 25 anos, eles criaram em 2011 o Meu Carrinho, um site de comparação de preços de produtos em supermercado. Inscrito na competição Sua Ideia Vale Um Milhão, ideia de Romero Rodrigues, CEO do Buscapé, controlado pelo grupo sul-africano Napster, o projeto concorreu com mais de 800 negócios. O Meu Carrinho foi escolhido e recebeu como prêmio R$ 300 mil de investimento do Buscapé, que se tornou dono de 30% da empresa – avaliando a start-up em R$ 1 milhão. Idealizada inicialmente para premiar apenas uma nova empresa digital, a competição acabou premiando também outras três. “A grande quantidade e qualidade dos projetos inscritos nos levou a uma escolha muito difícil”, diz Rodrigues. “Por isso decidimos trazer para o grupo não somente uma start-up, mas quatro”, afirma. Em meio a um ambiente favorável, Rodrigues vê a chance de se criar uma cultura empreendedora no País. “O Brasil precisa de mais empreendedores.” Por Bruno Galo
Fonte:IstoÉDinheiro03-01-2012
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