Marcas e Empresas
Os quatro estágios do ciclo de carreira de todo CEO
O ciclo de carreira de qualquer pessoa, em qualquer posição, tem quatro estágios. Pensemos no CEO.
Quando ele assume a função, seja ou não pela primeira vez, é importante, como parte de sua atuação no primeiro estágio, aculturar-se, entender a organização e observar qual é a perspectiva de orquestrador geral no novo ambiente.
Para quem inicia a carreira de CEO, o processo de aculturação não é o mesmo de quem já exerceu o cargo em outras empresas. Uma diferença importante está nas expectativas pessoais quanto à nova função. Muitas vezes a sensação de quem chega à presidência é de "finalmente consegui!" Em pouco tempo, porém, surgem alguns questionamentos: "Era isso mesmo? Tudo indica que não vou ficar tão independente como imaginava". Ele observa que tem um board como seu chefe: "Tudo o que eu cobrava do meu presidente, agora é comigo..." E que, mesmo após adaptar-se a isso, os desafios que ele tem a enfrentar não são pequenos.
É no primeiro estágio que o CEO deve sair da posição comum de quem garante diretamente o resultado do business para a de quem tem como principal tarefa "recalibrar" o foco e a energia pensando no curto e no longo prazos. Trata-se de uma atuação mais estratégica e institucional, a qual nem todos os executivos - mesmo que excepcionais gestores de unidades de negócio ou funcionais - querem ou sabem realizar. Tanto o CEO iniciante quanto o mais experiente têm pontos a desenvolver. Um deles, aliás, é o de lidar com o legado do presidente anterior, que, muitas vezes inconscientemente, criou algumas armadilhas para manter seu sucesso, as quais podem comprometer o desempenho da nova etapa.
O novo líder enfrenta ainda as expectativas dos seus liderados. Uma delas é de que seja o "salvador da pátria", especialmente quando a empresa está em situação difícil e ele vem de fora. A ansiedade é grande também para ele. Um novo jogo de poder será estabelecido. Então o que deve fazer? Ouvir, ouvir e ouvir. Com isso, e no tempo certo, compreenderá melhor o sentimento geral, inclusive os seus, e não estará sujeito à armadilha de se colocar como "todo-poderoso", aquele que tem todas as respostas e soluções para todas as pessoas. Caso contrário, pulará o estágio seguinte, da consolidação, e não se fortalecerá. Ou, como ocorre em alguns casos, irá direto para a quarta etapa, o que caracteriza o fracasso da escolha.
No segundo estágio já se conhecem razoavelmente o cenário e as variáveis mais importantes. Além disso, o mapa de poder, com seu dinamismo natural, já tem um novo desenho e os resultados começam a aparecer, o que contribui para a consolidação na liderança. Essa etapa é do esplendor da energia individual, empresarial e, portanto, de resultados.
Daí se passa para o terceiro estágio. Agora é necessário reinventar-se. As variáveis estão "sob controle" (ah, se isso fosse possível!). O modelo de negócios se altera cada vez mais rapidamente. Estamos na era das incertezas, na qual (como eu disse no último artigo desta coluna) o grande líder sozinho já não consegue ser vencedor. É um equívoco ele achar que o sucesso é só seu.
Não raramente, mesmo os que obtêm sucesso nessa etapa estão em posição de risco. É comum que pessoas bem-sucedidas se recusem a ouvir novas ideias. Ficam míopes, deixando que a arrogância, muitas vezes disfarçada de simplicidade, invada suas vidas. O controle e a burocracia dominam. Aí se desenha claramente o declínio. Quem está ao lado do líder durante essa etapa enxerga tal realidade antes dele. O protagonista está embevecido com o próprio sucesso e a própria história.
Um dos sinais de inteligência de um bom líder é a capacidade de perceber antes dos outros o fim e o início de cada um dos estágios de sua carreira. Há muito de emocional nessa capacidade. E quando chega a hora de mais uma vez se reinventar, de construir um novo ciclo, ele está verdadeiramente apto a evitar seu próprio declínio, a continuar na organização ou deixá-la, na busca de um novo desafio, outra empresa, outro momento de sua carreira.
Betania Tanure é doutora, professora da PUC Minas e consultora da BTA
Fonte:ValorEconômico19/08/2011
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