Marcas e Empresas
Swiss Re quer avançar em seguros
Michel Liès, presidente mundial da Swiss Re, não tem a pompa que costuma se esperar do executivo número um de uma companhia que, no ano passado, faturou US$ 31 bilhões e lucrou US$ 3,5 bilhões. Em visita ao Brasil, ele não veio acompanhado de nenhum assistente e pega táxi na rua do hotel para o escritório da companhia, na Avenida Paulista. Ele está de passagem pela América Latina, onde visita as operações de Brasil, para reuniões e um evento do setor, e Colômbia, onde a empresa acabou de comprar uma seguradora.
Em entrevista exclusiva ao Valor, Liès disse, em perfeito português, que a companhia quer crescer na área de seguros, o que inclui aquisições em mercados emergentes, depois de já estar consolidada no segmento de resseguros – em que é a número dois, atrás apenas da Munich Re. Nascido em Luxemburgo, Liès viveu no Brasil em 1976, quando trabalhava para uma empresa europeia de fornos de cerâmica.
Valor: Os preços das coberturas de seguros e resseguros no mundo estão baixos [o 'soft market']. Por que isso ocorre e qual a tendência?Michel Liès: Quando falamos de mercado “soft” falamos de riscos catastróficos. O último grande sinistro [indenização] foi o tsunami no Japão, em 2011. Depois disso, não teve nenhum grande sinistro assegurado catastrófico. Isso, junto com uma baixa taxa de juros nos EUA e na Europa, atrai o interesse de outros atores para o setor, como fundos que se interessam por investir nesse mercado procurando retornos maiores. O que a gente tem que observar é o que vai se passar quanto tivermos o próximo grande sinistro e quando os EUA começarem a aumentar os juros, se o apetite desses investidores se manterá o mesmo. Lançamos há mais de 20 anos os ‘catbonds’ [catastrophe bonds], com a possibilidade de aproveitar as capacidades dos mercados financeiros para os grandes riscos. Isso permite ao gestor ter um retorno mais alto quando não temos grandes catástrofes e alguma perda quando há.
Valor: Há uma onda de consolidação no setor de seguros mundial recentemente. O que explica isso?Liès: Há muito dinheiro no mercado, o que ajuda na consolidação, mas também há uma tendência de se diminuir a fronteira entre o resseguro e os seguros corporativos. Nosso modelo foi um pouco copiado nesse sentido. Em 2011 criamos três unidades: uma de resseguro, uma de seguros corporativos – a Corporate Solutions – e uma de compra de portfólios fechados de seguro de vida, que chama Admin Re. Não acredito que as transações são só pelo tamanho, mas também pela diversificação, uma abertura das companhias para outros tipos de riscos. Diferentemente do setor bancário, o segurador aproveita muito o tamanho junto com a diversificação. Quanto maior é a resseguradora, mais diversificada.
Valor: Após classificar os bancos, há um movimento dos reguladores de listar as seguradoras “too big to fail”. Como o senhor avalia isso?Liès: Há muitas discussões sobre isso e sempre se chega aos mesmos nomes: um americano e dois europeus. O principal problema dessas regulações “too big to fail” é a preocupação de que os reguladores entendam a diferença da indústria seguradora da bancária. O tamanho em uma companhia de seguros normalmente acompanha a diversificação [para a pulverização dos riscos], o que é um fator positivo. Por isso o “too big to fail” para o setor de seguro é um pouco estranho. Se uma companhia é muito grande, mas tem 40% dos negócios nos EUA, 40% na Europa e 20% na Ásia, um pouco o nosso caso, um grande sinistro num país não repercute na operação de outros países. Outro aspecto é que no mercado de seguros não tem o “run to the bank” numa crise.
Valor: A Swiss Re tem planos para aquisições?Liès: Na área de resseguros temos uma plataforma suficientemente eficiente para não precisar fazer aquisições. O mercado de resseguros é concentrado: as dez maiores companhias devem ter 90% do resseguro de vida e 50% do resseguro não-vida [riscos patrimoniais e de responsabilidades]. A Swiss Re tem 20% do mercado de resseguro de vida e 10% em não-vida. Na Admin Re, que compra carteiras de vida, isso é o dia a dia. Já na Corporate Solutions há espaço para compras. Recentemente compramos o controle da Confianza, na Colômbia, e na China adquirimos a Royal Sun Alliansce. Nossa participação no mercado mundial de seguros era de 0,5% [em 2011] e agora chega a pouco mais de 2%. Aqui o crescimento pode ser acelerado também por aquisição, principalmente nos emergentes.
Valor: Em quais mercados emergentes vocês têm interesse?Liès: Na América Latina, os mercados para seguro são Brasil e México e, na Ásia, Índia e China. Para a Corporate Solutions também se incluem mercados que não são os principais, mas são importantes, como Colômbia, Chile e Peru na América Latina, e Indonésia e Vietnã na Ásia. Também temos interesse na África, que tem um crescimento muito importante em certos países. Temos uma operação de resseguro na África do Sul, mas outras partes do continente precisam do apoio de seguradora.
Valor: A atual situação econômica do Brasil muda a estratégia da companhia para o país?Liès: Não muda em nada. Na nossa indústria o longo prazo é extremamente importante. Não temos um apetite que muda a cada ano. Claro que estamos preocupados com a situação brasileira, mas acho que o governo está fazendo o que é preciso. Nesse sentido, temos a convicção de que o Brasil tem um papel importante na economia mundial. Tem momentos de alto e baixo, mas as políticas devem ser julgadas da forma pela qual estão sendo endereçadas para solucionar o problema no momento de crise. O Brasil tem um grande potencial, apesar de não ter riscos catastróficos. O país não tem zonas sísmicas importantes, mas tem outros tipos de catástrofes, como inundações e enchentes. Por isso, o desenvolvimento [do mercado] aqui no Brasil tem que passar por novas coberturas. Aqui precisamos de um pouco mais de inventividade do que em outros mercados.
Valor: O último investimento que vocês fizeram no Brasil foi a compra de uma participação minoritária na SulAmérica, uma seguradora de varejo. Qual é a estratégia?Liès: Queremos nos posicionar como o melhor investidor e ator no setor de seguros. Tem alguns setores em que somos atores, como o de resseguros e seguros corporativos. Mas tem também setores em que temos apetite, mas não queremos entrar diretamente. No Brasil, tem uma enorme oportunidade no setor de saúde. Não queremos entrar na distribuição, mas podemos entrar na elaboração de produto, na experiência internacional. Uma solução para isso é comprar participações minoritárias.
Valor: Em 2014 a Corporate Solutions teve o melhor resultado no Brasil e se consolidou como um “player” de grandes riscos. Esse é um segmento em que há a saída de alguns concorrentes, caso do Itaú, que vendeu a carteira para Ace. Como o senhor vê tal mudança?Liès: Quando compramos a UBF, ela era focada em seguro garantia e agro e a ideia era que ela tinha um portfólio de clientes para os quais pode fazer muito mais. Quando uma companhia como o Itaú decide ficar no varejo e deixar o risco industrial é uma situação interessante de observar. É lógico que o que vemos é que as seguradoras locais e os banqueiros têm se concentrado no varejo, que exige um profundo conhecimento do mercado local, e as estrangeiras têm grande interesse nos riscos corporativos, mais internacionais. Fonte: Valor Econômico – Por Thais Folego Leia mais em sonhoseguro 15/04/2015
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