Biosev venderá proteção a investidor em IPO
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Biosev venderá proteção a investidor em IPO


A Biosev, empresa do segmento sucroalcooleiro controlada pela multinacional francesa Louis Dreyfus Commodities, decidiu apostar em um formato de operação pouco usual na tentativa de tornar viável uma captação de recursos por meio de oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) na BM&FBovespa. A companhia decidiu oferecer aos investidores a opção de vender os papéis de volta aos controladores da companhia após um prazo de 15 meses, pelo preço pago na oferta corrigido por juros.

A abertura de capital faz parte de um dos compromissos assumidos pela empresa no acordo para a renegociação de uma dívida bilionária feita há quatro anos (ver matéria ao lado). Pelo menos 30% dos recursos que a Biosev captar com a oferta de ações serão destinados ao pagamento dos bancos credores. A empresa pretende levantar R$ 700 milhões com a operação, que deve ser realizada em meados de abril.

O prazo original para a realização do IPO era agosto do ano passado, mas depois do fracasso dessa tentativa de abertura de capital conduzida em 2012 a companhia negociou o adiamento da operação.

O modelo da venda da opção ao investidor foi proposto pelo BTG Pactual, conforme apurou o Valor. O banco, que não participou da tentativa de oferta anterior, aparece como coordenador líder da nova emissão. Procurados, os envolvidos na oferta não comentaram o assunto por estarem em período de silêncio.

A estrutura de opções já foi testada nas ofertas de fundos de índices negociados em bolsa, também conhecidos pela sigla em inglês "ETF", conduzidas pelo BNDES. Mas no caso da oferta da Biosev, o investidor terá de comprar o "seguro", enquanto nas ofertas do BNDES a opção foi concedida de graça pelo banco. Tanto o valor da ação como o da opção ainda não estão definidos e dependerão da demanda do mercado.

De acordo com informações disponíveis no prospecto, o investidor possui duas alternativas: comprar apenas a ação ou o "pacote" da ação com a opção de venda. Se ao fim de 15 meses a cotação da Biosev na bolsa estiver abaixo do preço do IPO, o investidor que tiver a opção poderá vender os papéis de volta pelo valor pago na oferta, corrigido pelo Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha a taxa básica de juros. O exercício da opção terá a BM&FBovespa como contraparte - ou seja, a bolsa vai garantir a operação.

O seguro trazido pela opção pode ser uma forma de o controlador transmitir ao investidor a segurança de que o "negócio é tão bom que ele está disposto a te proteger", diz uma fonte próxima à empresa. Oferecer a possibilidade dessa proteção foi também uma maneira encontrada pela companhia de, supostamente, garantir a realização da oferta a um determinado preço.

A referência mais próxima para o valor da companhia foi o aumento de capital fechado em fevereiro deste ano, quando foram emitidas ações de forma privada a aproximadamente R$ 15. Na oferta realizada no ano passado, o preço da ação da Biosev foi estipulado entre R$ 16,50 e R$ 20,50, mas a companhia interrompeu a operação porque as negociações com potenciais investidores já estavam abaixo de R$ 15.

No fim das contas, a venda da opção não deve ser onerosa para a companhia, de acordo com uma fonte próxima à operação. Os atuais acionistas minoritários da Biosev, incluindo os bancos credores que converteram parte da dívida em capital, já possuem uma opção de venda contra a Louis Dreyfus, controladora da Biosev, que poderá ser exercida caso a companhia não consiga abrir o capital até 2014.

Ao mesmo tempo, a proposta heterodoxa da Biosev - uma espécie de mescla de renda variável com renda fixa - vem para tentar mitigar a probabilidade de perda do investidor. Os papéis de empresas de açúcar e álcool costumam ser avaliados como de risco elevado. Trata-se de um setor que, além de riscos de mercado (preço e câmbio), acumulam riscos climáticos e regulatórios. Interferências governamentais no preço da gasolina, por exemplo, afetam diretamente a rentabilidade do etanol hidratado.

No acumulado dos nove meses da safra de 12/13, a Biosev registrou um prejuízo de R$ 434,2 milhões, um aumento de 31% em relação ao mesmo período do ano anterior, e uma ociosidade industrial na casa dos 25%. A geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 740 milhões, o que representa uma queda de 5% ante os três trimestres da safra anterior. A empresa encerrou o ano passado com um endividamento líquido de R$ 4,7 bilhões, mas recentemente reforçou o caixa em cerca de R$ 800 milhões, resultado da venda dos canaviais da usina São Carlos (SP) ao grupo São Martinho, por R$ 200 milhões, e do aumento privado de capital de R$ 600 milhões, concluído em 28 de fevereiro.

Resultado ruim impediu operação no ano passado

A Biosev tentou abrir o capital em junho do ano passado, mas carregava resultados ruins desde a aquisição da Santelisa Vale - tradicional grupo sucroalcooleiro de São Paulo, resultante da fusão das usinas Santa Elisa e Vale do Rosário. Quando foi comprada, a Santelisa Vale tinha dívidas que superavam R$ 4 bilhões e pouco mais de R$ 20 mil no caixa.

À época, em 2009, a Dreyfus já tinha usinas que reuniam condição de processar 20 milhões de toneladas de cana. Com a Santelisa Vale, tornou-se a segunda maior processadora de cana-de-açúcar do país, com 40 milhões de toneladas de capacidade.

Mas, logo no primeiro ano pós-fusão, ficou evidente que estava difícil para a Dreyfus 'digerir' o ativo recém-adquirido. O ganho de sinergia alcançado, de R$ 190 milhões por ano, foi considerado pequeno pelo mercado. A dificuldade da trading em lidar com as complexidades agrícolas da cana-de-açúcar e as relações estabelecidas na cadeia - com fornecedores da matéria-prima, por exemplo - foi apontada como um agravante operacional.

Para piorar o quadro, adversidades climáticas em duas safras canavieiras seguidas - 2010/11 e 2011/12 - acabaram por reduzir significativamente a produtividade das áreas de cana da empresa, já sucateadas desde a crise financeira da Santelisa Vale.

Quando tentou abrir seu capital, a LDC Bioenergia já havia mudado seu nome para Biosev, mas os resultados ainda eram ruins. Em 31 de março de 2012, três meses antes da primeira tentativa de IPO, a companhia apresentou um prejuízo líquido de R$ 279,4 milhões, reflexo de uma ociosidade de 31% de sua capacidade em função da pouca oferta de cana. Tinha também uma dívida de curto prazo ainda alta, de R$ 1,8 bilhão, o que preocupava os investidores. Por essa razão, a oferta não foi bem-sucedida.

Em um ambiente de aparente otimismo com ativos do agronegócio, em que frigoríficos e usinas captam recursos a taxas de juros atrativas, a Biosev volta para convencer o investidor que melhorou - ainda que, para isso, tenha que oferecer garantias. O ponto forte, segundo apurou o Valor, é o alongamento da dívida de curto prazo, realizado pelos bancos credores neste ano.

Assim, o desempenho de uma ação como a da Biosev estaria diretamente ligado à flutuação dos preços do etanol e do açúcar. O mercado de açúcar passa por um mau momento, com excesso de oferta, mas o forte estímulo que se desenha para a produção de etanol no Brasil tende a enxugar a produção doméstica de açúcar. Desse modo, o superávit global da commodity, estimado em 7 milhões a 8 milhões de toneladas, pode cair para um patamar entre 2 milhões e 3 milhões.

Quanto uma possível guinada das cotações do açúcar pode influenciar as ações da Biosev depende do volume que a empresa tem de cana própria e de fornecedores. Pelo sistema de pagamento da cana adotado na maior parte das regiões brasileiras, quando o preços do açúcar e do etanol oscilam, há um repasse para o valor pago ao fornecedor. Se a cana vem de cultivo próprio, a usina fica com o ganho (ou perda).

No caso da Biosev, as 13 usinas do grupo têm, em média, 62% de cana própria, acima da média de 50% de todo o setor. No entanto, o maior desafio para a empresa, segundo analistas, será não apenas mostrar que pode ter bom desempenho diante de preços mais elevados do açúcar ou do etanol. Mas de construir resultados, apesar dos riscos que o setor sucroalcooleiro impõe aos seus integrantes. (Valor ) Fonte: brasilagro 20/03/2013



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