Homens e mulheres se comportam de forma diferente em um grande número de questões, isso não é muito difícil de aceitar. Nesse texto, resumirei algumas evidências do comportamento de mulheres em questões econômicas (e algumas sociais ou políticas). Não cheguei a ler inteiramente os textos, mas foi possível uma cobertura ampla em pouco tempo.
Algumas ressalvas gerais. 1) Os resultados são pesquisas empíricas ou experimentos em uma determinada população, mais restrita (alunos de uma faculdade) ou mais ampla (habitantes de um país). Logo, há um problema de generalizar os resultados. 2) Muitas conclusões apenas confirmam um senso comum existente sobre o assunto. As evidências continuam importantes, não obstante, já que nem sempre o senso comum está correto. 3) Por questão de espaço, não foram discutidos todos os resultados das pesquisas ou expostas a maioria de suas limitações.
Mulheres são mais avessas a risco?
Um artigo procurou evidências empíricas sobre o comportamento de mulheres solteiras, homens solteiros e casais quanto a investimento em ativos de risco. Para simplificar o parágrafo abaixo, “mulheres” refere-se a mulheres solteiras, “homens” a homens solteiros e “investimento” (ou termo correlato) a investimento em ativos de risco.
O artigo constatou que: as pessoas investem mais com aumento na riqueza, mas esse aumento é menos acentuado para o caso de mulheres; em todas as faixas etárias, mulheres investem menos do que homens ou casais; mulheres investem menos conforme aumenta o número de crianças no domicílio, o inverso do comportamento dos homens e dos casais.
Outra pesquisa feita na Europa constata que um menor número de mulheres investe em ativos de risco, mas que, em termos de proporção do patrimônio, mulheres investem tanto quanto homens em ativos de risco.
Mulheres são menos egoístas?
Em um experimento, foi pedido para que homens e mulheres decidissem sobre a divisão de uma certa quantia entre ele/a e uma hipotética outra pessoa. O resultado constatou (confirmou) que mulheres são menos egoístas ao doarem mais dessa quantia à outra pessoa (quase o dobro a mais). Esses resultados são estatisticamente significativos.
Um outro artigo examina as condições que mais favorecem a generosidade. Em um experimento semelhante ao anterior, constatou-se que as mulheres são mais generosas do que os homens quando: a outra pessoa é totalmente desconhecida; menos dinheiro está envolvido; não há expectativa de reciprocidade.
Espera-se que as mulheres sejam mais generosas do que os homens?
O tópico acima conclui que as mulheres são mais generosas e esse tópico discute se esse comportamento é esperado. Segundo um experimento, mulheres acreditam que são mais generosas, mas os homens acreditam que não há diferenças de generosidade. No mesmo artigo, os autores apontam duas possíveis conseqüências disso no mercado de trabalho: maior generosidade pode implicar menor vontade de competir, reduzindo a quantidade de mulheres em empregos com grande competição (e alta remuneração); também, pode levar a um maior oferecimento de vagas em care jobs (não achei tradução para essa expressão).
Mulheres evitam competição?
Uma pesquisa comparou o comportamento de homens e mulheres na resolução de um problema de lógica, formatado de duas formas: uma não competitiva e outra competitiva. Os participantes participavam das duas formas e depois escolhiam com qual preferiam continuar. Embora não haja diferenças no desempenho das mulheres entre as duas formas de disputa, um número muito maior de homens prefere participar da forma competitiva do que da forma não competitiva (73% contra 35%). Essa evidência parece confirmar uma hipótese da pergunta anterior.
Gestoras de fundos
Gestoras de fundos são mais avessas a risco do que os gestores, conforme o comportamento geral das mulheres. Também, evitam a competição com outros gestores ao procurarem um desempenho mais próximo ao da referência. Ou seja, gestoras de fundos se comportam de maneira consistente com as demais mulheres.
Há maior restrição de crédito para as mulheres?
Na Itália, mulheres empreendedoras em pequenas empresas pagam mais caro pelo crédito do que os homens empreendedores, a despeito de apresentarem uma taxa de falência menor, mesmo controlando por outras variáveis que poderiam explicar esse fato. Ter que apresentar um fiador é um fator de risco para os homens. Apresentar um homem como fiador diminui as taxas para mulheres, mas apresentar uma mulher como fiador aumenta a taxa. Isso tudo evidencia discriminação contra mulheres na concessão de crédito na Itália.
Mulheres são consumidoras mais leais?
Uma série de experimentos resumidos em um artigo constatou que quando a relação comercial se refere a uma pessoa (empresa de um conhecido, um determinado prestador de serviço etc.), as mulheres são mais leais. Quando a relação se refere a um grupo (empresa de um grupo de conhecidos, uma determinada empresa etc.), os homens são mais leais.
Mulheres preferem trabalhar no setor público ou no terceiro setor?
Partindo da constatação de que, na França, a participação das mulheres no setor público e no terceiro setor é maior do que a de homens, esse artigo procura algumas explicações. Uma é a diferença salarial, positiva para mulheres no setor público, negativa no setor privado. Maior flexibilidade na carga de trabalho (que permite passar mais tempo com a família ou flexibilidade para cuidar dos filhos) favorece esses setores em detrimento ao setor privado.
Característica das mulheres no alto escalão das empresas
Segundo um artigo, em média as mulheres possuem cargos menos importantes no alto escalão, possuem menos diretorias em outras empresas e estão menos presentes nos 5 maiores salários das empresas.
Mais mulheres no alto escalão melhora o desempenho das empresas?
Segundo um estudo feito na Dinamarca, há essa relação mesmo controlando por outras diferenças entre as empresas.
Outro estudo examina os efeitos de uma maior presença de mulheres na diretoria melhora a governança. O nível de comparecimento dos homens às reuniões aumenta com aumento na participação de mulheres. A presença de mulheres nos comitês de governança é maior do que a presença na diretoria. Também, aumento na participação feminina está associado com maior rotatividade dos diretores presidentes e um aumento na remuneração variável, indicando maior monitoramento. Apesar dessas melhoras na governança corporativa, não há evidências de que o desempenho da empresa melhore, havendo algumas evidências de que piore.
Por que existem tão poucas diretoras nas empresas?
Após constatar que 61% das 100 maiores empresas inglesas possuem diretoras que representam 3% do total, os autores desse artigo procuram explicações para esse fato. Um primeiro conjunto de explicações (teoria da identidade social) diz que a hegemonia numérica dos homens nas diretorias acaba se perpetuando enquanto os diretores acabam criando barreiras culturais para a entrada de mulheres (ou outras pessoas que fujam do padrão vigente). Também, quando o gênero acaba sendo uma característica muito saliente, acaba havendo uma pressão maior para melhor desempenho. Outro conjunto diz respeito às redes sociais, que homens possuem mais contatos e que podem contribuir com mais capital social para a rede da empresa. Constatou-se que mulheres que conseguiram um alto cargo tinham contatos de trabalhos anteriores, de trabalho voluntário ou com mulheres que são esposas de homens importantes.
Mulheres & Política
Um artigo constata uma correlação entre gastos do governo como percentagem do PIB e participação feminina na força de trabalho. Também, uma pesquisa feita na Suécia mostra que uma maior representação política leva a maiores gastos públicos em childcare e educação. Um outro artigo que diz respeito ao Japão mostra que a opinião das esposas sobre questões femininas influencia as opiniões dos maridos.
Mulheres que trabalham são melhores para casar?
Entendendo “melhor para casar” como ausência de divórcios, a resposta é sim. Um estudo constatou uma correlação negativa entre taxa de divórcio e taxa de participação feminina na força de trabalho nos Estados Unidos. O mesmo estudo ofereceu duas explicações para esse fenômeno: maior seletividade por parte das mulheres que trabalham e maior flexibilidade para reajustar os rendimentos no caso de mudanças econômicas que afetem o emprego.
Estudos sobre diferença salarial entre homens e mulheres não foram comentados aqui. Essa é uma questão maior e mais complexa que requer um outro texto.