Marcas e Empresas
Duelo de bancos em pagamentos móveis
No mesmo dia, Itaú anuncia dispositivo para captura de vendas com cartões por celulares e Bradesco dá alargada no projeto Meu Dinheiro Claro, que transforma os aparelhos telefônicos em cartões pré-pagos
Os dois maiores bancos privados do Brasil, Itaú e Bradesco, anunciaram ontem avanços no negócio de pagamentos móveis, mostrando que a briga pela conquista de espaço nesse mercado é para valer. Junto com a “repaginação” da marca Redecard (a empresa de credenciamento de estabelecimentos e captura de transações com cartões do Itaú), o banco divulgou um dispositivo que permite transformar smartphones ou tablets em uma “maquininha” (Points of Sales, ou POS na sigla em inglês).
Já o Bradesco anunciou que sua parceria com a operadora Claro, que transforma o celular em um cartão pré-pago virtual, saiu do papel e já está em funcionamento em quatro cidades . Cada lançamento tem uma estratégia e visa um público diferente, mas ambos servem para marcar a presença das duas instituições num mercado com grande potencial de expansão.
O dono da Rede — novo nome da Redecard — mirou nos pequenos negócios, autônomos e empreendedores individuais, como dentistas, vendedoras de porta-a-porta, taxistas e personal trainers. Segundo o presidente da Rede, Milton Maluly, o segmento dos pequenos e médios negócios é o mais rentável—e é nele que a empresa espera crescer. Desde que fechou o capital, a credenciadora vem perdendo participação no mercado para os concorrentes - chegou a ter 45% e agora tem cerca de 37%.
“Quem mexe o ponteiro do market share são os grandes clientes (com faturamento anual acima de R$100 milhões),que ainda respondem por dois terços das nossas receitas Mas ao mesmo tempo, a briga por preço deprimiu as tarifas . Não estamos atrás de market share a qualquer preço”, diz Maluly. O dispositivo Móbile Rede, lançado hoje, vem se juntar a diversos outros concorrentes, a maioria deles não-vinculados a bancos . Maluly acredita que a vantagem do seu é, exatamente, ter a grande rede de distribuição e a base de clientes do Itaú e da Rede, com mais de um milhão de pontos de venda.
A vantagem, para quem recebe, é não pagar o aluguel das “maquininhas”. Mas o executivo admite que esse novo mercado é relativamente pequeno e acima de tudo, desconhecido. “Estamos testando”, diz. Por isso,, acredita que a sobreposição em relação aos POS da Rede será irrelevante. Já o novo serviço do Bradesco em parceria coma Claro é voltado para o comprador,não para o vendedor. Será oferecido por meio da empresa MPO, operada pela Alelo, empresa do Bradesco e Banco do Brasil que administra cartões benefícios e pré-pagos.
Qualquer cliente da Claro pode optar pelo produto, que pode ser carregado em lojas da operadora, da Bradesco Express, por meio de boleto, transferência direta da conta-corrente de qualquer banco ou de outro celular com Meu Dinheiro Claro, explica Marcos Bader, diretor da Bradesco Cartões. Segundo o executivo, o público alvo em um primeiro momento são pessoas sem conta corrente. “Existe hoje no Brasil cerca de 55 milhões de pessoas não bancarizadas que movimentam R$ 650 bilhões por ano”, diz.
Mas Bader vê potencial além da inclusão financeira para o produto: “O dinheiro virtual logo estará para o dinheiro vivo como os Flintstones estão para os Jetsons”, brinca. “O chip é um parasita que carrega as funcionalidades de pagamento e hoje tem os cartões de plástico como seu principal hospedeiro; no futuro próximo, esse hospedeiro será o telefone celular”. O executivo explica ainda que o usuário pode pagar com os créditos carregados no Meu Dinheiro Claro em “maquininhas” da Cielo—a empresa líder de mercado e concorrente da Rede tem o Bradesco e Banco do Brasil como controladores.
O custo das transações são altos para a população de baixa renda: um saque, de qualquer valor, paga R$ 5. Mas Bader diz que o dinheiro volta como crédito do celular Claro. O produto está disponível em Belford Roxo, São João de Meriti e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e Goiânia, em Goiás — e não existe data para ser estendido a outras cidades. Bader diz ainda que o anúncio das duas novidades no mesmo dia pelos dois bancos concorrentes foi mera coincidência. “Seja como for, quem ganha com isso é o mercado, pois as duas empresas estão lançando produtos e serviços carregados de inovação e voltados a inclusão financeira.”
“Os dois compraram os tíquetes para entrar na festa; ninguém quer ficar de fora”, diz Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia. Consultoria em Varejo Financeiro. O Banco Central deve soltar em breve um conjunto de normas para regulamentar a lei 12.865/2013, que entre outras coisas trata dos novos arranjos de pagamentos e pagamentos móveis.
A lei deu ao BC poder sobre empresas não financeiras, como operadoras de celular e empresas credenciadoras de cartões e emissoras de cartões pré-pagos e de benefícios. Os bancos estão correndo para garantir sua participação com protagonistas. Freire acredita que o congresso sobre inclusão financeira promovido pelo BC em Fortaleza no começo de novembro deve trazer alguma novidade. “O principal objetivo do BC será regular macroquestões, ‘usos e costumes’; só depois deve avançar para um entendimento mais profundo do setor”, diz Maluly, do Itaú.
Dispositivos que aceitam cartões em celulares avançam A designer carioca Viviane Codeço, 32 anos, está satisfeita com o seu iZettle —assim como o Móbile Rede, lançado ontem pelo Itaú,o dispositivo permite receber pagamentos com cartões pelo telefone celular. Desenvolvido pela empresa sueca em 2010, foi lançado no Brasil em parceria com o banco Santander, em agosto. “Funciona muito bem”— diz Viviane, que há dois meses decidiu estudar panificação e confeitaria e saiu do emprego para virar free-lancer — e também vender seus pães.
“Como dispositivo acoplado ao celular, Viviane aceitar cartões de crédito ou débito das bandeiras Visa e Mastercard, para qualquer venda acima de R$1. Como foi uma das primeiras, conseguiu no dispositivo e o aplicativo para o celular de graça – mas paga 6,75% por cada venda. O dinheiro é depositado em uma conta sua aberta no iZettle, cerca de cinco dias depois.
O Móbile Rede cobra R$ 129 pelo aparelho e aplicativo; e uma taxa de 3,99% por vendas no cartão rotativo e 6,99% em compras parceladas, limitadas a três vezes. O pagamento é feito em 30 dias. O dispositivo aceita todas as bandeiras de cartões aceitas pela Redecard — Visa, MasterCard e Diners, além de várias menores. Há vários outros concorrentes no mercado.
Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia.Consultoria em Varejo Financeiro, lembra que o pioneiro nessa tecnologia foi a americana Square. No Brasil, o PagSeguro, da UOL, também investe em campanha de marketing para conquistar clientes. Outra concorrente é a PagPop. Criada em 2011, a empresa faturou R$1,5 milhão em 2012. Léa de Luca | Brasil Econômico
Fonte: resenhaeletronica 23/10/2013
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