Marcas e Empresas
Impsa fatia ativos para facilitar plano de reestruturação
Para sair de maneira sustentável do processo de recuperação judicial, o grupo argentino Impsa e seus assessores financeiro e jurídico traçaram três pilares para o plano de reestruturação da dívida de R$ 3,2 bilhões, a valores atuais, da Wind Power Energia (WPE). Primeiro, a venda dos ativos de geração de energia; segundo, trazer um novo sócio para a WPE, que ficaria só com a unidade de fabricação de equipamentos geradores; e, terceiro, readequação da dívida com credores financeiros e fornecedores ao fluxo de caixa da companhia.
Do passivo da WPE, o correspondente a US$ 390 milhões estão em poder de credores estrangeiros, os bondholders, e US$ 150 milhões são com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Bancos diversos, como Bradesco, Votorantim e do Brasil têm R$ 680 milhões a receber. Clientes, a título de antecipação, R$ 560 milhões. E fornecedores em torno de R$ 300 milhões. Há ainda dívidas entre empresas do grupo com a controladora de R$ 400 milhões.
Na execução do plano, está prevista a separação entre a Energimp, operadora dos parques eólicos em Santa Catarina e Ceará, da WPE, que tem 55% do seu capital acionário. Os demais 45% são do fundo FI-FGTS (gerido pela Caixa Econômica Federal). O fundo, em maio de 2010, fez aporte de R$ 400 milhões no negócio de geração de energia da Impsa.
Somente os ativos de Santa Catarina, com potência de 222 MW já gerando energia, poderiam render na operação ao menos R$ 800 milhões. "Isso mudaria bastante o rumo da recuperação judicial", disse ao Valor o presidente da WPE, Luis Pescarmona, membro da família controladora do tradicional grupo fabricante de equipamentos de Mendoza e representante de seus negócios do Brasil. "Entramos em 2006 no Brasil e fizemos investimentos acima de R$ 4 bilhões no país no setor elétrico, que apontava perspectivas enormes de expansão. Acreditamos no país", afirmou.
Graciema Bertoletti, sócia-sênior da G5/Evercore, responsável pela implementação do plano, informa que há negociações muito avançadas para venda do parque eólico Ceará II, que tem 120 MW prontos para gerar e outros 90 MW em fase de construção. "Com o dinheiro, pode-se concluir o restante do parque e depois o saldo da venda vai para o caixa da Energimp".
Na parte jurídica, que se encarregou da ação de recuperação judicial, a WPE é assessorada pelo escritório Sergio Bermudes.
A executiva diz que há também interessados para as fábricas de geradores eólicos e hidráulicos, que podem ficar com um único dono, ou com dois, pois têm contabilidades distintas e podem atuar como negócios distintos. "Há vários formatos para o portfólio de ativos", diz Graciema. Os potenciais investidores, do Brasil e exterior, são os próprios credores, fundos com apetite para voltar ao país, grupos que atuam em geração eólica e operadores de fábricas como a da WPE.
No caso dos parques de Santa Catarina, há uma pendência judicial com a Eletrobrás, que tentou tirar o empreendimento do programa Proinfra, de estímulo à geração de energia renovável, a cargo da estatal. Quando ficou pronto, em 2011, a estatal se recusou a pagar a energia, apesar de pareceres favoráveis de vários órgãos do governo federal e da Aneel (agência do setor), conforme relata Pescarmona. A estatal vem pagando sob força de uma ação liminar. São cerca de R$ 18 milhões ao mês.
Nesse ativo, o investimento do grupo foi de R$ 1,3 bilhão - 40% de capital próprio da Impsa. Pescarmona avalia que, depois de tanto embate com a Eletrobras, o grupo busca uma maneira que leve à venda do ativo da Energimp. "Acredito que a família saindo da Energimp, como está disposta, esse problema será resolvido com a Eletrobras".
Para os leilões de hidrelétricas o grupo fez, também em Suape, uma fábrica de turbinas hidráulicas e ganhou concorrência para quatro das 18 da usina Belo Monte. Um contrato de R$ 820 milhões, que a dona de Belo Monte (a Norte Energia) está tentando cancelar. "A primeira delas está prevista só para 2016. Acreditamos que há condições de entregar com a recuperação definida". A WPE foi à Justiça e obteve uma liminar para manter o contrato.
O empresário diz que a Impsa investiu mais de R$ 300 milhões apenas nas duas fábricas de geradores de energia e chegou a ter quase 20% do mercado nacional de turbinas eólicas, com mais de 2 mil subfornecedores locais. "Ao comprarmos o parque eólico de Santa Catarina, acreditamos no Proinfra como um programa para desenvolver esse potencial do país e isso nos estimulou a montar a fábrica em Suape, a mais moderna do país", afirma Pescarmona.
No Estado do Ceará, a controlada Energimp investiu, com apoio do FI-FGTS, em vários parques eólicos, participando de leilões de energia de 2009 a 2011. O Ceará I, de 100 MW, também do Proinfra, está operando. O Ceará II - com total de R$ 1 bilhão, sendo R$ 550 milhões de dívida - está na etapa de negociação. Por falta de recursos para implementar, o Ceará III (150 MW) foi vendido e o IV (120 MW) está parado na empresa.
O empresário aponta que a WPE sofreu alguns contratempos, como restrições do BNDES a projeto do Proinfra, a MP-571 do setor elétrico que atrasou repasses e a decisão da Eletrobras, que causaram descasamento de caixa na empresa enquanto investia. Mas admite que o grupo cometeu alguns erros estratégicos. Primeiro, não perceber a questão da Eletrobras, ter investido em várias frentes ao mesmo tempo, com muito capital e garantias do grupo e ter recorrido ao mercado financeiro pagando custos elevados para tomar recursos.
"Essa situação me entristece, pois fizemos um esforço grande de investimento no Brasil nesse setor. Trouxemos tecnologia e agora só temos 450 empregados [chegaram a 2 mil]", afirma Pescarmona. "Vamos fazer com que os credores recuperem o máximo possível".
Na quinta-feira, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou os ratings da Impsa de calote seletivo ("RD") para calote ("D"), decido à recuperação judicial. E rebaixou também para "D" os ratings Venti, holding controladora. Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo Leia mais em portosenavios 04/05/2015
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