Marcas e Empresas
Kinea, do Itaú, compra 20% do ABC, de Nizan Guanaes
Aporte do fundo de private equity é alternativa do grupo, que inclui as agências Africa e DM9DDB, à associação com um gigante internacional
A Kinea, empresa de investimentos do Itaú, comprou 20% do Grupo ABC, do publicitário Nizan Guanaes, por R$ 170 milhões. Com o dinheiro e a consultoria financeira dos executivos do Kinea, o grupo, que hoje é o 18.º maior conglomerado de comunicação do mundo, pretende fazer aquisições e expandir a operação, principalmente no Brasil.
"Os mercados de marketing e publicidade não estão fechados. Ainda existem boas oportunidades no País", diz Guga Valente, presidente do Grupo ABC, que no ano passado faturou R$ 840 milhões. Segundo ele, já existem negociações em andamento e as primeiras aquisições após a entrada do Kinea devem ser anunciadas ainda neste ano. A união do Kinea com o ABC havia sido antecipada nesta quinta-feira à tarde pelo blog da colunista Sonia Racy.
Quando fala em boas oportunidades, Valente se refere a agências independentes e regionais. No fim de 2011, o grupo comprou a agência Morya, com presença em dez Estados brasileiros, principalmente da região Nordeste. É por meio desta agência que o ABC pretende crescer em outros mercados do País. "Aconteceu muita coisa em São Paulo, mas a consolidação regional ainda está por vir", diz Valente.
Outro vetor de expansão, segundo ele, são os serviços de marketing, que não foram alvo dos grandes conglomerados no Brasil. Empresas que trabalham com marketing direto, esportivo ou com eventos estão entre os alvos do ABC. "Podemos contribuir bastante com o grupo neste momento, porque uma de nossas especialidades é fazer aquisições", reforça Cristiano Lauretti, líder do setor de private equity da Kinea.
Esse é o quarto investimento do Kinea, criado em 2009 pelo Itaú para investir nos segmentos de saúde, educação e varejo. O fundo tem participações no Grupo Multi, dono das escolas de inglês Wizard, na Unidas, especializada em locação de veículos, e nos laboratórios Delfim, do Nordeste. "Assim como as outras três empresas, o Grupo ABC também está dentro do guarda-chuva de consumo, porque seus clientes estão expostos ao movimento do consumidor."
Essa não é a primeira vez que os fundadores do ABC, Guanaes e Valente, dividem o controle com um fundo de investimentos. O Icatu é sócio da DM9DDB desde 1989. E, até 2012, o Gávea detinha 7% das ações do grupo.
Gestão. Como é de praxe em seus investimentos, a Kinea terá o direito de indicar um diretor financeiro para o grupo e um conselheiro. Os sócios Nizan Guanaes e Guga Valente continuam à frente do negócio. "Agora, estamos mais envolvidos do que nunca", diz Valente. "Nizan é o grande idealizador, a comunicação continua sendo dele e eu sigo cuidando da manutenção do negócio."
Em um primeiro momento, a mudança maior se dará nas 14 empresas controladas pela holding. Os cerca de 20 sócios das subsidiárias poderão se tornar sócios também da holding. Hoje, os empreendedores das empresas adquiridas pelo grupo detêm participação apenas em suas agências. "Queremos que todos tenham os mesmos interesses", diz Valente. O modelo de negócios do grupo ABC já vinha sendo reestruturado com a ajuda do consultor Vicente Falconi, que também assessora empresas como a Gerdau e a Amil.
Ao se associar a um parceiro financeiro, o ABC optou por um caminho diferente de seus principais concorrentes nacionais, que nos últimos anos se uniram a gigantes internacionais da comunicação. Em julho de 2012, os franceses da Publicis, que já eram sócios da DPZ e da Talent, assumiram o controle da brasileira NeogamaBBH. Em 2011, a inglesa WPP comprou a F.Biz, e a americana SapientNitro adquiriu a iThink no ano passado.
A venda para o Kinea foi uma tacada de Nizan para evitar uma associação com grupos internacionais – ele foi procurado, entre outros, pelo WPP. "Nunca nos atraiu a ideia de sociedade com um grupo estrangeiro", diz Valente. "Quando isso acontece, você abandona seu projeto para virar o projeto dos outros." Naiana Oscar e Fernando Scheller, de O Estado de S. Paulo
Fonte: estadao 05/04/2013
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