Mercado vive paradoxo em meio a fusões e aquisições
Marcas e Empresas

Mercado vive paradoxo em meio a fusões e aquisições


O setor de tecnologia da informação (TI) vive um paradoxo: embora apresente o maior número de fusões e aquisições no país, o mercado continua altamente pulverizado, com pouquíssimas companhias de grande porte. Para comparar, em áreas como varejo, petroquímica e bancos, o grande volume de transações nos últimos anos gerou uma forte concentração de mercado, com a formação de companhias bilionárias. Na área de TI, a Totvs representa um caso isolado de companhia nacional que resultou de um processo de fusões e aquisições e que hoje compete em pé de igualdade com gigantes internacionais.

 De acordo com um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC), o volume de fusões e aquisições em TI passou de 46 em 2008 para 79 em 2011. O setor, que respondia por 7% dessas operações no país em 2008, elevou a participação para 12% no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, o setor registrou 23 operações, 15% a mais que no mesmo período de 2011.

 Em quatro anos, os processos de fusões e aquisições no país deram origem a apenas quatro companhias de TI de grande porte: Totvs, Tivit, Stefanini e Globalweb Corp. Essa contagem leva em consideração os critérios do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), que estabelece como grande porte a empresa com mais de 500 funcionários e receita superior a R$ 300 milhões ao ano. "O setor de TI é extremamente pulverizado no Brasil e no exterior. Esse é um dos motivos porque há um grande volume de transações, mas poucas empresas grandes ou gigantes", diz Alexandre Pierantoni, sócio da PwC.

 De 23 operações feitas até março, 11 custaram em média R$ 5 milhões, frente à média no país de R$ 190 milhões

 Sem detalhar números, Pierantoni diz que o valor médio das transações no setor é inferior à media do total de fusões e aquisições no país, de US$ 100 milhões (R$ 190 milhões). De acordo com a Ferrari Consultoria, das 23 operações registradas no primeiro trimestre, 11 tiveram valores entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões. "As companhias internacionais realizam as operações de maior porte. As nacionais adquirem empresas menores", afirma Roberto Ferrari, consultor da Ferrari Consultoria.

 Ferrari diz que as maiores aquisições no país são feitas geralmente por grupos internacionais. Ele cita os casos da empresa de serviços de TI CPM Braxis, que vendeu 55% de participação para a francesa Capgemini em 2010, por R$ 517 milhões, e do BuscaPé, que vendeu 91% de participação para o grupo de mídia sul-africano Naspers, por US$ 342 milhões, em 2009.

 Recentemente, um dos raros casos que deram origem a uma companhia brasileira bilionária foi o da Stefanini, voltada a serviços de TI. Entre 2010 e 2011, a companhia fez seis aquisições. Comprou as americanas Tech Team e CXI, a colombiana Informática & Tecnología, e as brasileiras Vanguard, Sunrising Consulting e Orbitall. Para este ano, Marcos Stefanini, fundador e presidente da companhia, prevê um aumento na receita de 35%, para R$ 1,67 bilhão. O grupo planeja investir R$ 300 milhões até 2014 em aquisições de pequenas e médias empresas. "As opções existentes no país são companhias de menor porte. As grandes já foram vendidas", observa o executivo.

 Além da oferta escassa de oportunidades relacionadas a grandes empresas, um fator que dificulta o surgimento de novas "Totvs" é o alto nível de especialização do setor, afirma Ricardo Reis, líder em fusões e aquisições da Ernst & Young. O setor é dividido em áreas de equipamentos, software e serviços. Mas cada uma delas é formada por segmentos bastante especializados. As exceções são a produção de computadores e a de semicondutores - áreas nas quais há enorme influência de companhias internacionais, com pouco espaço para o surgimento de novos competidores brasileiros.

 "O mercado de TI é mais intelectual, há poucas commodities. Por isso é tão segmentado", diz Cristina Boner, presidente do conselho da Globalweb - resultado da fusão entre duas divisões do grupo TBA com a Benner Sistemas. Voltada a software e serviços com acesso por internet (na nuvem), a Globalweb planeja uma série de aquisições para ganhar corpo e elevar sua receita de R$ 300 milhões em 2011 para R$ 500 milhões em 2014. Neste ano, o orçamento para compras é de R$ 50 milhões. No alvo estão pequenas e médias empresas.

 Outro aspecto citado por analistas para explicar a rara formação de empresas de grande porte é o alto risco do negócio de tecnologia. É impossível saber se uma inovação fará sucesso ou não. As empresas de TI inovadoras necessitam de investimentos desde seu nascimento, sem uma certeza sobre o retorno do capital investido. A escassez de capital de risco dificulta a expansão de muitas delas.

 Pierantoni, da PwC, ressalva que nem todas as empresas de TI precisam ser gigantes para ter sucesso. "É muito comum encontrar pequenas empresas de TI que dominam um segmento específico de software ou de serviço e vivem bem por muitos anos", diz. Um exemplo é a Ci&T, voltada à terceirização de serviços de tecnologia, que atua em 27 países e prevê para este ano um crescimento de 35% em relação à receita alcançada no ano passado, de R$ 135 milhões.

 Na avaliação do analista, o mercado de TI é pulverizado e deve continuar com essa característica. A exceção seria a área de serviços, que já passou por um processo de concentração no mercado internacional em anos recentes. A Linx Solutions está entre as companhias que pretendem ganhar robustez por meio de aquisições. Desde 2008, a companhia fez nove aquisições. A mais recente foi a Microvix, em janeiro. "O objetivo é continuar realizando aquisições para manter a competitividade", afirma Alberto Menache, diretor-presidente da Linx.

 No foco da Linx estão empresas de pequeno e médio portes, com atuação regional, que tenham uma carteira de clientes ou serviços complementares ao seu portfólio atual, diz Menache. O executivo afirma que o setor de serviços é um dos mais maduros na área de TI. O mercado é controlado por companhias de grande porte e multinacionais, o que dificulta a tarefa de ganhar participação. "As empresas tendem a ser fiéis às marcas. Para fazer a marca ganhar importância, é preciso ter robustez e ganhar a confiança do mercado", afirma Menache. Por Cibelle Bouças
 Fonte: Valor Econômico 04/05/2012



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