Marcas e Empresas
Perdas de Longo Prazo
(Can Recent Long-Term Investors Recover from Their 2000-2009 Stock Losses?)
Charles P. Jones
Journal of Investing. Verão. 2011.
A década de 2000-2009 foi a pior da história para o mercado acionário americano (referenciado pelo S&P 500), pior até do que 1920-1929 quando ocorreu a Grande Depressão. A perda, levando em conta o reinvestimento dos dividendos (o que o S&P 500 não faz automaticamente), foi de aproximadamente 10%. Essa estatística leva em conta apenas décadas completas (1900-1909, 1910-1919 etc.) e não períodos quaisquer de 10 anos, mas é um dado importante. O que o autor procura responder é se um investidor que tivesse entrado no mercado no começo de 2000 poderá algum dia recuperar seu capital investido.
O primeiro ponto é a definição de “recuperação”. Ter de volta apenas o principal não parece ser uma tarefa das mais difíceis, porém, o investidor continuaria tendo a perda em relação à renda fixa e a não compensação pelo risco incorrido. O autor utiliza o referencial de 10% a.a. como uma taxa adequada para as ações no longo prazo. Considerando as atuais taxas dos títulos de 30 anos (4,18% a.a.), isso significaria um prêmio por risco de 5,82%, um valor próximo ao que Pablo Fernández encontrou em pesquisa com professores, analistas e empresas, na média 5,50% com mediana de 5%.
O desempenho fraco do mercado na primeira década do século XXI se deveu ao duplo mercado do urso, aquele entre 2000 e 2003 e outro mais recente a partir do topo histórico em outubro de 2007. A perda poderia ser muito maior não fosse o desempenho do ano de 2009, entre 2000 e 2008 o retorno sendo de -27,8%. A década de 1980 foi a terceira melhor e a de 1990 a melhor, a década de 2000 e quem tivesse investido em 1990 teria um retorno de 8,23% a.a., abaixo dos 10% de referência do autor e um pouco acima do rendimento do T-Bond de 30 anos (8%) no começo de 1990.
O autor simula o desempenho da carteira do investidor que iniciou no ano 2000 nos horizontes de 20, 30 e 40 anos, 10 já tendo se passado, assumindo diversas taxas de retornos médias para o futuro. Como dito, até uma baixa taxa de 5% levaria o investidor a recuperar o valor investido, porém, seria necessária uma taxa de 15% a.a. por 40 anos para que o investidor pudesse ter uma taxa média de 10% a.a. no período 2000-2039, sendo necessária uma taxa ainda maior para chegar nesses 10% em menor tempo. Se o mercado tiver o desempenho de 15% a.a. a taxa de 30 anos seria de 9,43%. Sendo que a taxa do T-Bond de 30 anos era de 6,6% no começo de 2000, isso seria um prêmio por risco de apenas 2,83% a.a., o que não parece ser um prêmio por risco que agrade muito.
Ou seja, com taxa de 15% a.a. pode-se ter um prêmio por risco de 2,83% em 30 anos, que não é grande coisa, e taxa média de 10,8% a.a. em 40 anos, que já é mais razoável. O problema é que obter essa taxa não é nada simples. A tabela abaixo tirada do artigo mostra as probabilidades (utilizando dados históricos) de se obter uma determinada taxa em um determinado período de tempo.
Em 20 e 30 anos (para as janelas de 30 e 40 anos), a probabilidade de obter taxa de 15% a.a. é de apenas 12% e 7% respectivamente. A taxa de 10% adotada pelo autor parece ser razoável, a probabilidade de ocorrência estando próxima de 50%. Ou seja, se a recuperação for conseguir uma taxa média de 10% apesar da década de 2000, a chance de isso ocorrer é de apenas 7%, que é bastante baixa.
O artigo termina comentando sobre o papel da sorte nos investimentos. O que se diz até agora é quão difícil será para o investidor que começou em 2000 recuperar seu dinheiro, seu tempo e o risco incorrido. Sua situação seria um pouco melhor se tivesse começado em 2001, quando teria um retorno total de 0,5% entre 2001 e 2009. Se tivesse começado em 2003, teria retorno de 46,4% entre 2003 e 2009 (5,6% a.a.), o que aumentaria a sua chance de recuperar o investimento. Ou seja, começar na hora errada pode custar muito caro.
Já havia comentado brevemente esse artigo. Resumindo, investimento em ações no longo prazo comprando e mantendo a carteira tem as suas falhas. Dizer que tem falhas não quer dizer que não seja algo bom ou adequado e que deve ser descartado, apenas que não é perfeito, como de resto nada é. O investidor pode começar na hora errada ou pode terminar na hora errada (se o longo prazo do investidor terminasse em 2008, a carteira teria sofrido um imenso impacto justo em seu último ano), podendo ter perda, rendimento menor do que a renda fixa ou um prêmio por risco muito menor do que gostaria quando iniciou. Acontece. Alternativas como a seleção de ações, alocação de ativos, operações de curto prazo com base em análise técnica ou qualquer outra estratégia também tem suas falhas e um investidor que começasse em 2000 empregando essas técnicas poderia estar em situação pior e com menos chances de recuperar-se no longo prazo. Investir em ações é arriscado, toda técnica tem falhas e o investidor tem que aceitar esses dois fatos.
loading...
-
Tir Não é Média
Anteriormente, comentei um artigo que comparava retornos de alternativas de investimento incomparáveis. Esse texto faz algo análogo e confunde média com taxa interna de retorno. O ponto de partida é a afirmação de que as ações (Ibovespa) estão...
-
Ações Nem Sempre São Melhores No Longo Prazo
Uma história comum que nunca deixa de circular na mídia (imprensa e meios de comunicações mais tendenciosos) é a de que, no longo prazo, as ações sempre terão rendimento superior ao da renda fixa e, portanto, no longo prazo o risco é zero (comparado...
-
Fundamentos Da Queda
Quando o mercado acionário declina, é muito comum ouvir que essa queda não tem fundamentos (o adjetivo “especulativa” é a cereja do bolo). Criam-se as mais diversas explicações alternativas, da má fé dos participantes do mercado até a existência...
-
Risco E Retorno (renda Fixa)
Os conceitos de risco e retorno na renda fixa e na renda variável são muito semelhantes. A grande diferença é que o risco (a incerteza sobre os retornos futuros) de um título de renda fixa é muito menor do que na renda variável. Além de menor,...
-
Qual é O Retorno Mesmo?
Quanto determinado ativo rende em um determinado período? A pergunta parece simples, mas a distribuição de dividendos e bonificações acaba por torná-la mais complexa. O que determina qual será o retorno é o que será feito com os dividendos. Fiz...
Marcas e Empresas