Marcas e Empresas
Usar a razão, a fórmula do sócio de Buffett para investir
Uma das virtudes menos apreciadas num investidor é a coragem.
Documentos apresentados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, em março e novamente este mês, mostram a extraordinária coragem e iniciativa de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett e vice-presidente do conselho da Berkshire Hathaway BRKB -0.69% .
Munger, que completará 90 anos no próximo dia 1o de janeiro, é um modelo para os investidores individuais que se perguntam como podem vencer os profissionais nesse jogo. Os profissionais têm mais informações do que a pessoa comum, e seus computadores são mais rápidos. Mas ainda é possível ter uma vantagem sobre eles — para isso é preciso jogar diferente, seguindo regras próprias e mais sensatas.
Um investidor individual pode ser paciente e não precisa fazer parte do rebanho; os profissionais não têm essa alternativa. E acima de tudo, o investidor individual pode ser corajoso; os profissionais quase nunca o são.
O que torna Munger um modelo para o investidor individual?
No primeiro trimestre de 2009, durante os dias mais desesperados da crise financeira, Munger tirou 71% do caixa da Daily Journal, uma pequena editora da qual é presidente, e aplicou tudo em ações de bancos, das quais tantos outros investidores fugiam. Até 31 de março de 2009, sua aposta já tinha tido um retorno de 60%. Juntamente com outras aquisições que fez depois, Munger investiu US$ 49,7 milhões em ações e títulos que hoje valem US$ 128,4 milhões, de acordo com o balanço que a Daily Journal apresentou em 20 de agosto.
Munger não estava disponível para entrevistas, disse um assistente.
Na assembleia anual da Daily Journal em fevereiro, Munger falou brevemente sobre suas iniciativas. De acordo com uma transcrição on-line e um participante, Alexander Rubalcava, da Rubalcava Capital Management, Munger disse: "Nós agimos de maneira muito sensata", aplicando corajosamente as reservas de caixa quando o preço das ações estava "ridiculamente baixo".
O investimento da Daily Journal não foi a única decisão arrojada tomada por Munger durante a crise. No Good Samaritan Hospital, centro médico de Los Angeles cujo conselho é chefiado por Munger, os fundos há muito eram mantidos em dinheiro e investidos em dívidas de curto prazo — até que os títulos de dívida de empresas caíram muito durante a crise financeira.
Munger decidiu, então, aplicar a maior parte do dinheiro em títulos de empresas, segundo duas pessoas a par do assunto.
Uma porta-voz do Good Samaritan não retornou um pedido de comentário, mas as demonstrações financeiras do hospital mostram que as aplicações de seu fundo ganharam mais de US$ 12 milhões em receitas e lucros não realizados no exercício encerrado em 1o de setembro de 2009 — ou seja, um retorno de uns 20% ao longo de um período em que reservas em dinheiro tiveram um retorno de 0,5% e o mercado global de títulos rendeu menos de 8%.
De onde Munger tira sua ousadia? No fim da década de 1980, lembrou ele numa entrevista, um convidado num jantar lhe perguntou: "Diga-me, qual a principal qualidade que explica o seu enorme sucesso?"
A resposta de Munger: "Eu sou racional. Essa é a resposta. Eu sou racional".
Formado em meteorologia pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia, Munger pensa em termos de probabilidades, e não certezas, dizem os que o conhecem. Um divórcio precoce e a morte de um filho, por leucemia, ensinaram a ele que a adversidade apresenta uma oportunidade para mostrar fibra. E décadas devorando livros de história, ciências, psicologia e biografias deram a Munger uma capacidade aguçada de diagnosticar a tolice humana.
"Charlie parece ser capaz de inverter as emoções, ficando desinteressado quando as outras pessoas estão eufóricas e profundamente envolvido quando os outros estão incertos ou temerosos", diz um amigo de longa data, Christopher Davis, presidente do conselho da Davis Advisors, firma de gestão de fundos de Nova York.
Munger é a favor do que ele chama de "ficar sentado quieto", seja o que for que a multidão de investidores esteja fazendo, até que um bom investimento por fim se concretize. No pânico que uma oportunidade normalmente produz, Munger rumina. Se gostar do que vê, ele ataca.
Muitos gestores de fundos passam o dia em reuniões, digerindo e-mails, fitando telas que mostram cotações, sempre obcecados em derrotar o mercado. Munger e Buffett, por outro lado, "sentam-se numa sala silenciosa, lendo, pensando e falando com pessoas no telefone", diz Shane Parrish, gerente de fundos que edita o Farnam Street, um blog sobre tomada de decisões. "Ao organizar suas vidas de modo a excluir as distrações e tomar menos decisões", acrescenta, Munger e Buffett "aumentaram suas chances de tomar decisões melhores".
Buffett não quis comentar, dizendo apenas: "Charlie é realmente racional". Por JASON ZWEIG CONNECT
Fonte: TheWallStreetJournal 01/09/2013
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