Marcas e Empresas
‘Crescimento do Brasil será pouco afetado pela crise’, diz ex-BC
Carlos Geraldo Langoni prevê crescimento de 4% este ano e em 2012, mas diz que resultado pode cair com recessão global
SÃO PAULO - O crescimento do Brasil será pouco afetado pela crise e deve ficar em cerca de 4% neste ano e em 2012. Caso o mundo mergulhe em nova recessão no último trimestre, o PIB pode crescer entre 2% e 3% no ano que vem, resultado bem melhor que a queda de 0,6% de 2009. A avaliação é de Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV-RJ.
Para Langoni, há 60% de possibilidades de os EUA entrarem em recessão novamente em 12 meses e será inevitável que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) adote a terceira edição da política de afrouxamento quantitativo (QE3).
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Com o agravamento da crise mundial, o BC deveria adotar qual decisão na próxima reunião do Copom, que termina no próximo dia 31?
O Banco Central deve interromper a alta da Selic, aguardar o desdobramento da crise mundial e o impacto imediato de algum ajuste nos preços nas commodities. Isto terá algum efeito deflacionário que vai acelerar o processo de redução das expectativas inflacionárias, que já apareceu na pesquisa Focus.
O BC poderia cortar os juros a partir de outubro?
Depende do desdobramento da crise. A grande dúvida é saber se vai haver o contágio do sistema financeiro europeu em razão da crise da dívida europeia e agora com a perspectiva de algum tipo de intervenção do BCE, afetando países maiores, como Itália e Espanha. A necessidade de reduzir juros surgiria se essa crise, que por enquanto é crise de dívida nos EUA e Europa, se transformasse numa crise sistêmica atingindo o sistema financeiro internacional.
Qual é o cenário que o sr. avalia para os EUA no curto prazo?
Os EUA estão dando sinais de estagnação. A economia desacelerou e vem crescendo em torno de 1%, em termos anualizados. Essa crise de confiança e o impacto psicológico do rebaixamento do rating do país pela S&P certamente torna o cenário de relativa estagnação o mais provável.
Qual a probabilidade de os EUA entrarem em recessão em 12 meses?
É de 60%. Nesse contexto, é inevitável que o Fed adote o QE3 no curto prazo.
O QE3 conseguiria afastar os EUA de uma recessão?
Agora é que a política monetária nos EUA está praticamente no limite em termos de taxa de juros, pois está em zero, então o que pode ser feito é mais expansão quantitativa de liquidez. A política fiscal saiu das mãos do governo e está nas mãos da comissão bipartidária e vai ocorrer uma queda de braço tão ou mais intensa que a que marcou o debate sobre a elevação do teto da dívida. É muito pouco provável que sairá um ajuste fiscal inteligente.
Qual é a sua avaliação da queda de quase 10% do Ibovespa na segunda-feira?
O Ibovespa é vítima do próprio sucesso. O mercado de ações no Brasil é um dos mais líquidos dos emergentes e quando há uma crise de confiança ocorre liquidação de posições nos mercados mais líquidos. Essa é uma queda exagerada e reflete que um terço dos investidores são estrangeiros. O mercado vai sofrer, deve continuar muito volátil até o fim do ano, mas os investidores estrangeiros devem voltar no curto prazo.
O que o sr. espera para o câmbio nos próximos meses?
Vai haver uma moderada desvalorização, acompanhando essa fuga de capital de curto prazo e também principalmente o ajuste dos preços das commodities, que é inevitável com o crescimento mais lento da economia mundial.
A desaceleração da economia mundial ajudará a inflação a convergir à meta em 2012?
Ajuda. Esse é o lado positivo dessa crise, que eu preferia que não ocorresse. As expectativas de inflação estão melhorando tanto para 2011 como 2012.
Como ficará o crescimento do País neste ano e em 2012 em razão da crise internacional?
O crescimento deste ano deve ficar ao redor de 4% ou até um pouco abaixo. Para o ano que vem, como há o cenário de relativa estagnação dos EUA e da Europa, acredito que vamos repetir o crescimento deste ano. Caso ocorra uma recaída recessiva no mundo no último trimestre de 2011, o Brasil deve crescer de 2% a 3% em 2012.
AgênciaEstado09/08/2011
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