Marcas e Empresas
Aumentar a distribuição de dividendos
Em outro texto, analisei os efeitos de reter mais lucros para reinvestir na empresa em novos projetos. Isso aumenta o valor da empresa se os novos projetos tiverem valor presente líquido positivo e diminui no caso contrário. Deixei uma pergunta: e quanto a distribuir mais dividendos e deixar de reinvestir na empresa para manter os antigos projetos?
A taxa de retenção de dividendos, calculada no texto anterior, é a taxa necessária para que o patrimônio líquido aumente e o ROE permaneça o mesmo, dado um ROE e uma taxa de crescimento. Continuando o exemplo anterior, considere um lucro líquido inicial de $ 100,00 e um patrimônio líquido inicial de $ 1.000 antes da retenção de lucro no período 0. Para que o ROE seja de 10% com taxa de crescimento de 6%, a taxa de reinvestimento deve ser de 60% e se retém $ 60 no período 0. Com crescimento de 6%, o ROE no período 1 será de 10% (106/1.060). No período 2, crescendo novamente a 6%, tendo retido $ 63,60 em lucros, o ROE continua em 10% (112,36/1.123,6) e continuará assim indefinidamente.
Caso haja a retenção de menos dividendos e o crescimento permaneça o mesmo, o ROE irá aumentar. Distribuindo 100% dos lucros no período 1, o ROE no período 2 será de 10,60% (112,36/1.060). Esse ROE diminuiria gradativamente até chegar aos 10% que deveria ser. Claro que nada impede o ROE de variar e de crescer. Na verdade, saindo desse modelo simplificador, é certo que o ROE (e qualquer outro indicador) irá variar. A questão é que, nas premissas adotadas, não deveria.
Vou adicionar mais algumas informações nesse modelo. O único passivo da empresa é o Patrimônio Líquido e o ativo é composto apenas por capital de giro e ativos fixos (há a parte do passivo do capital de giro, mas vamos considerar apenas o capital de giro líquido no ativo). Inicialmente, 80% do ativo é capital fixo e 20% capital de giro. Os reinvestimentos dos lucros segue a mesma proporção para manter as mesmas participações. A receita inicial é de $ 1.000 e a margem líquida é 10% e não se alterará. Lucros e receitas crescem à mesma taxa. A relação AtivoFixo/Receita e Capital de Giro/Receita é 0,848 e 0,212 respectivamente.
Utilizando a taxa de retenção de 60% em todo o período, o ROE, a relação AF/R e a relação CG/R permanecem constantes, como deveriam. Supondo que o lucro do primeiro período seja totalmente distribuído, o ROE aumenta e as demais relações diminuem. Como dito, isso é perfeitamente possível de acontecer, indicando uma maior eficiência no uso dos recursos. Na hipótese de distribuir 100% dos lucros, a empresa gera mais lucros sem precisar aumentar o capital investidor, gera mais vendas sem precisar aumentar nem o capital fixo nem o capital de giro. Porém, se a suposição é de que a empresa esteja em um período de estabilidade de forma a utilizar a fórmula de cálculo de valor presente com taxa de crescimento constante, todos esses indicadores devem permanecer os mesmos. Se a suposição for de que a empresa nunca reterá lucros, o ROE crescerá tendendo ao infinito e as outras relações decrescem tendendo a zero, indicando um ganho de eficiência perpétuo, a empresa fazendo sempre cada vez mais sem precisar aumentar o capital investido.
Distribuindo 100% do lucro com taxa de crescimento de 6% resulta em valor da empresa de $ 2.650, contra $ 1.060 distribuindo apenas 40%. Seria bom, se não fosse irreal.
Supondo que a distribuição de 100% se dê apenas no primeiro período, a melhor correção é não fazer com que os fluxos cresçam no primeiro período (lucro líquido=dividendo=100) e só passem a crescer no segundo período. Dessa forma, os indicadores analisados permanecerão os mesmos, exceto o ROE no período 1. A interpretação disso é que a empresa simplesmente não pode aumentar suas vendas sem aumentar o seu capital investido; se não aumenta o capital, não aumenta as vendas.
O valor presente sob essas condições é de $ 1.054,55, menor do que os $ 1.060 originais. A perda se dá pelo adiamento do crescimento da empresa. Os acionistas ganham um dividendo superior no primeiro período, ganhando $ 90,91 (100/1,1) com isso, porém, perdem mais por conta do adiamento do crescimento. O valor presente dos fluxos na data 1 é de $ 1.060 (42,4/0,04) e na data 0 é de 963,64, a diferença resultando em uma perda superior aos $ 90,91 ganhos, resultando na perda líquida de valor de $ 5,45.
Uma empresa pode distribuir muitos dividendos em um período, crescer, aumentar pouco o capital investido e assim melhorar os indicadores de eficiência de uso de capital. Mas daí não estará distribuindo dividendos excessivamente, e sim na proporção certa. Se a empresa não precisa dos recursos para manter seus projetos atuais ou investir em novos projetos, o melhor mesmo é que devolva esse dinheiro para os acionistas. Porém, distribuir recursos que deveriam ter sido retidos só pode prejudicar os acionistas destruindo valor.
A planilha exemplo é a mesma do texto anterior, utilizando-se a pasta “Vamos distribuir mais”.
loading...
-
Dividendo = Desinvestimento
No texto anterior, tratei do reajuste de cotações por eventos de custódia como dividendos e juros sobre capital próprio, que, após a sua distribuição, reduzem o preço e o valor de mercado da empresa. Isso não representa uma perda patrimonial...
-
Análise De Sensibilidade
No livro 201 errores en la valoración de empresas, o autor cita uma sentença judicial onde se lê que “não é suficiente dar apenas uma estimativa pontual desses fluxos futuros e deve-se considerar diferentes cenários. A cada um desses cenários...
-
Ipo é Uma Das Formas Mais Baratas Da Empresa Captar Dinheiro?
Uma frase recorrente é que realizar uma oferta pública inicial (IPO) é uma forma barata de financiar a empresa. Já tratei disso aqui e resolvi voltar a tratar do assunto. De forma bem básica, a empresa se financia com capital próprio e capital de...
-
O Que é Custo De Capital?
Em uma reportagem de conhecida revista, um entrevistado declarou não existir dinheiro mais barato do que o do mercado de ações, ou seja, dos acionistas. Em Finanças Corporativas, aprende-se que o custo do capital próprio é maior do que o custo da...
-
Investimentos Em Avaliação De Empresas
Em avaliação de empresas, ao lucro líquido (no caso da abordagem do FCFE) ou ao lucro operacional depois de impostos (no caso da abordagem do FCFF) subtrai-se o investimento líquido em capital (Investimento em capital – Depreciação e Amortização)...
Marcas e Empresas