Marcas e Empresas
Governança, competitividade e retornos
(Corporate Governance, Product Market Competition, and Equity prices)
Xavier Giroud e Holger M. Mueller
Journal of Finance. Volume 66. Ed. 2. 2011
O artigo analisa a relação entre governança corporativa, competição e retorno de ações. Estudos passados mostram que há alguma relação entre governança e retornos e esse artigo inclui a análise da competitividade para melhor entender essa relação.
O estudo foi feito com mais de 3 mil empresas no período entre 1990 e 2006. A governança é medida por um índice anteriormente construído (índice G) com base em 24 medidas de governança adotadas pelas empresas, com maior índice indicando pior governança. A competitividade é medida pelo índice de Herfindahl–Hirschman (HHI), sendo que quanto maior for o índice, mais concentrada (e menos competitiva) a indústria é. A correlação entre as duas variáveis é baixa, o que permite distinguir efeitos causados por uma e pela outra variável.
A primeira análise foi a do retorno de uma carteira comprada em ações “democráticas” (com baixo índice G) e vendida em ações ditatoriais (com alto índice G). Há uma separação adicional de acordo com a concentração da indústria das empresas, com baixo, médio e alto HHI. O modelo de precificação de ativos utilizado é o de quatro fatores (o de três fatores mais o fator momentum de Carhart), as ações foram ponderadas de forma igual ou por valor de mercado, e os períodos foram 1990-1999, 1999-2006 e 2000-2006, gerando seis análises diferentes. Com a exceção de um, o alfa das carteiras foram positivos e estatisticamente significativos para o grupo de alto HHI enquanto só há um alfa distinguível de zero no grupo de HHI médio, e nenhum alfa diferente de zero no grupo com baixo HHI. Isso indica que a governança afeta o retorno das ações em indústrias mais concentradas, não havendo efeito quando há maior competição. Os resultados se mantém mudando as medidas de governança e de competitividade são mudadas. Analisar as ações separando-as em termos de participação de investidores institucionais mostra que o alfa da carteira democracia-ditadura é positivo para ações de maior investimento institucional. Excluir empresas de tecnologia da análise original muda um pouco a significância econômica, mas os resultados continuam parecidos.
Seria possível argumentar que a relação na verdade é entre concentração e retornos ou que fatores relativos aos setores é que influenciam os retornos. Os autores refizeram as análises incluindo um quinto fator, o de concentração da indústria (com base em estudo anterior que mostra que ações de empresas em setores mais concentrados geram retornos menores), e/ou ajustando os retornos pela média do setor. Duas definições diferentes de setores de atuação foram utilizadas. E modelos de precificação de ativos alternativos (incluindo o CAPM) foram utilizados. Em todos esses casos, a relação apresentada anteriormente entre HHI e os alfas continua a mesma na maioria dos casos.
Analisando as ações de forma individual controlando por outras variáveis (tamanho, VPA/P etc.), os retornos são menores de acordo com o índice de governança para empresas com alto HHI (de forma que as com pior governança e alto HHI geram menores retornos). Em outra análise, ações “ditadoras” geram retornos menores e em uma terceira análise empresas “ditadoras” com HHI médio e alto geram menores retornos, sem haver relação entre retornos e HHI sem considerar a governança.
Tudo isso indica haver retornos inferiores para empresas com governança pobre em setores pouco competitivos. Os autores fazem análises adicionais para melhor entender a relação. Primeiro, estudam o erro de previsão dos analistas. Empresas com governança pobre conseguem lucros menores do que as com melhor governança, tudo o mais constante, mas o erro de previsão levando em conta apenas governança não é diferente de zero. Considerando também o HHI, a previsão de lucros de empresas com pior governança em setores mais concentrados é superestimada, não havendo relação para empresas com HHI baixo ou médio. E isso não se deve exclusivamente à concentração, primeiro porque esse fator é levado em conta na análise, segundo porque lucros de empresas com HHI alto são subestimados.
A próxima análise diz respeito ao Q de Tobin, uma medida do valor da empresa. Há uma relação negativa entre o índice G e o Q (ou seja, o valor da empresa diminui com piora na governança). Isso ocorre principalmente com empresas de pior governança em setores mais concentrados, o que não ocorre porque maior concentração leva a menor valor, o contrário ocorrendo. Outras análises estudam a relação do retorno sobre ativos, margem líquida, crescimento de vendas e retorno sobre patrimônio líquido, a maioria sendo menor para empresas de pior governança, e o efeito se concentrando nas empresas de governança pobre em setores com HHI médio ou alto.
Os autores passam a estudar os investimentos das empresas. O principal ponto é que as empresas de pior governança realizam mais aquisições e que o retorno das ações na janela -2, +2 em torno do anúncio das aquisições é inferior de acordo com o índice de governança. Empresas em setores mais concentrados e com pior governança fazem mais aquisições e tem retornos inferiores, indicando que essas aquisições são destruidoras de valor.
O índice de governança está negativamente relacionado com a produtividade (vendas/número de funcionários) e positivamente com custos, ou seja, empresas com pior governança têm menor produtividade e maiores custos, e esse resultado se deve principalmente às empresas em setores mais concentrados.
Por fim, os autores analisam um mecanismo de situação dessa situação, que é o ativismo de fundos de hedge, que poderiam buscar melhorar a governança das empresas e implementar outras mudanças. Os resultados mostram que empresas de pior governança em setores com HHI médio ou alto são mais suscetíveis a ativismo dos fundos, enquanto que não há diferença com base em HHI nas empresas de melhor governança. E há alguma evidência de que a governança melhora após a intervenção dos investidores ativistas mais em empresas de setores mais concentrados.
Em suma, empresas de pior governança em setores de atuação com menos competição geram menores retornos das ações, são menos lucrativas, menos produtivas e incorrem mais em aquisições destruidoras de valor. Uma conclusão que se pode tirar é que governança e competição são substitutos para melhorar o desempenho da empresa, em especial da alta direção. Em setores competitivos, a própria competição irá forçar a administração da empresa a buscar melhor resultados, sob risco de haver uma mudança na administração. Em setores pouco competitivos, não há essa pressão e, se não houver fortes mecanismos de governança, a empresa irá ser menos lucrativa e produtiva do que poderia ser. Para reduzir custos de agência, competição e governança são substitutos (o que não exclui que possam ser complementares).
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