Marcas e Empresas
Retorno sobre investimentos colecionáveis
Em outro texto do blog, escrevi sobre investimento em selos. Essa é apenas uma das diversas classes de “investimentos alternativos”, que incluem objetos colecionáveis em uma mistura de paixão com busca por rentabilidade.
A questão passa a ser se essas duas coisas podem ser conciliadas e quais são as características de itens colecionáveis como investimento financeiro. É o que o artigo Measuring Returns on Investments in Collectibles de Benjamin Burton e Joyce Jacobsen publicado no Journal of Economic Perspectives procura analisar.
Primeiro de tudo, os autores do artigo buscam determinar quem são esses colecionadores. A dificuldade é a baixa disponibilidade de base de dados a respeito do assunto. As estimativas variam muito e não separam colecionadores de investidores-colecionadores. O que as pessoas colecionam exatamente também é difícil de estimar. Quanto à demografia, parece mais fácil afirmar que pessoas mais velhas são colecionadoras, mas não parece haver uma limitação a uma categoria de renda. Certamente que a renda influencia o que a pessoa coleciona, sendo inviável alguém de baixa renda colecionar vinhos finos, por exemplo.
Na parte das motivações, os autores citam como objetivos completar um conjunto, preencher espaço físico, decorar um ambiente, manipular a escala dos objetos (no caso de miniaturas) e aspirar objetos perfeitos. Também podem servir como uma forma de entrar em determinado grupo social ou mesmo como um objeto de culto. Claro que diferentes itens servem para diferentes objetivos dentre os citados. Um objetivo final, tema do artigo, é obter ganhos financeiros. Em uma pesquisa, 22% dos colecionadores citam esse objetivo.
Na parte mais objetiva do artigo, a questão dos retornos passa primeiro por determinar a metodologia de cálculo de retornos. A primeira é a criação de um índice com preços de mercado em uma cesta fixa. Com ativos que não são negociados com frequência, com baixa transparência de preços e múltiplas fontes, essa é uma tarefa desafiadora. Além do mais, esse método não controla por diferenças de qualidade entre os ativos. Outra abordagem é a criação de um índice rodando uma regressão sobre as características do ativo. A vantagem é que podemos analisar melhor as características do ativo e isolar um efeito (idade, por exemplo), mas cai em problemas de estimativas. A terceira alternativa é utilizar apenas os preços efetivos de venda e utilizá-los em uma regressão. Esse método compensa erros dos dois anteriores, mas ignora informações das observações não incluídas no modelo.
O artigo não traz novas pesquisas empíricas sobre o tema, e sim uma coletânea de estudos anteriores. A faixa de retorno para artigos colecionáveis está entre 11% e 14% por períodos de 13 a 21 anos. Exceto para alguns submercados (pintores da escola Barbizon, por exemplo), os retornos são positivos em termos nominais. Alguns segmentos registram retorno real negativo, no entanto. Investimentos colecionáveis geram menor retorno em relação às ações e mesmo com títulos de renda fixa e o nível de risco é superior à maioria dos investimentos. Ou seja, é possível que haja um benefício não-pecuniário por trás da decisão de investir em coleções.
O próximo assunto é o da correlação com outros ativos ou com a inflação. Mesmo que o retorno seja ligeiramente inferior, a inclusão de itens colecionáveis na carteira pode ter utilidade para fins de diversificação se a correlação com investimentos mais tradicionais seja baixa. Com relação às ações, itens colecionáveis mostraram uma relação negativa em mercados de alta, mas o preço fica relativamente estável durante mercados de baixa. O fato de que fundos de pensão não investem em fundos alternativos desse gênero pesa contra a possibilidade de haver algum benefício de diversificação.
O mercado de investimentos colecionáveis é bem menos eficiente no que se refere à incorporação de informações nos preços do que outros mercados mais tradicionais, e essa é uma desvantagem desse tipo de investimento. Possibilidades de arbitragem existiam no passado, mas passaram a ser eliminadas com o passar do tempo.
Custos em investimentos colecionáveis são maiores (armazenagem, manutenção etc.) para algumas situações, mas a tributação pode ser mais favorável e em alguns casos sequer haver cobrança de imposto. Essa é uma questão que precisa ser melhor estudada.
A conclusão do estudo é de forma geral desfavorável ao investimento em itens colecionáveis com vistas a retornos financeiros. Pode servir como uma aposta ou como um “investimento emotivo”, mas não é uma alternativa viável aos investimentos tradicionais (ação, renda fixa etc.). No entanto, o estudo não conseguiu ser tão abrangente quanto pretendia e na verdade seria necessário analisar caso a caso para verificar a atratividade como investimento.
Fonte da imagem: Jllm06na Wikipédia.
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