O preço do pecado: O efeito das normas sociais no mercado.
HONG, Harrison e KACPERCYK, Marcin. Journal of Financial Economics. Volume 93, edição 1. 2009.
Esse curioso artigo procura analisar o desempenho de ações ligadas aos setores de bebidas alcoólicas, fumo e jogos de azar (definidas como “Triunvirato do Pecado”) que foram batizadas de ações-pecadoras (ou empresas-pecadoras). Os autores procuram analisar se essas ações estão menos presentes em carteiras de instituições sujeitas a restrições sociais, como os fundos de pensão. Uma conseqüência disso é uma menor cobertura por parte de analistas, que pode diminuir a eficiência de mercado para essas ações. Em seguida, analisa-se os efeitos do “pecado” na avaliação das empresas. As hipóteses são de que essas empresas são mais arriscadas e valem menos com retornos esperados maiores. A justificativa para a possibilidade desse risco maior é a menor proporção de investidores institucionais (o que limita o compartilhamento de risco) e o risco de processos por conta da atividade dessas empresas. Também, procurou-se descobrir se o status de pecadora afeta as decisões corporativas, como a alavancagem. A hipótese é de que essas empresas são mais alavancadas, aproveitando a menor transparência dos mercados de dívida (é mais difícil constatar que um investidor institucional está investindo em títulos de renda fixa de uma empresa-pecadora).
Os principais resultados, a serem resumidos nesse texto, foram as pesquisas com ações de empresas americanas. Depois, são apresentados análises com empresas estrangeiras. Todas as análises levam em conta outros fatores que podem explicar as diferenças entre as empresas e isolam o efeito do “pecado”.
A proporção de investidores institucionais varia entre 21,28% e 23,79% dependendo de como as demais variáveis são controladas, contra uma média geral de 28%. Esse efeito não ocorre em fundos mútuos e analistas independentes (até ocorre, mas o resultado é estatisticamente insignificante), que são menos restringidos socialmente. O número de analistas cobrindo as empresas-pecadoras varia entre 1,28 e 1,34 contra uma média geral de 1,7.
O retorno observado ajustado ao risco das ações pecadoras varia entre 0,21% a.m e 0,33% a.m. (ou seja, o retorno pode aumentar nessas magnitudes apenas porque a empresa é “pecadora”). Com as evidências internacionais, os autores concluem que a melhor estimativa do retorno seria de 0,25% a.m.. Também, essas empresas valem 15% menos do que valeriam se não “pecassem”. Por fim, as empresas-pecadoras são 19,26% mais alavancadas, aproveitando-se da menor transparência dos mercados de dívida..
Na minha opinião, deixar de investir em ações-pecadoras (do ‘Triunvirato do Pecado” ou outras) é uma escolha pessoal justificável, mas não é uma boa escolha política/social. O Governo proibir que se invista nessas empresas (em outras palavras, proibir que essas empresas existam) não elimina a demanda, apenas a oferta legal. Nessas condições, haveria uma oferta ilegal, como há de outros produtos e serviços. O que os governos podem fazer e fazem é aumentar a regulação sobre essas e outras empresas, inclusive cobrando mais impostos delas.