Bônus como percentual de receita deve acabar
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Bônus como percentual de receita deve acabar


Os pacotes de bônus baseados em modelos de participação, bastante usados em tesourarias e áreas comerciais de bancos, tendem a desaparecer, segundo Eduardo Prado, analista sênior especializado em instituições financeiras da Towers Watson, consultoria que estrutura políticas de remuneração.

No sistema de participação, o banco separa, por exemplo, 10% da receita gerada pela área de negócio e distribui como bônus anual aos profissionais.

"Isso provavelmente vai se extinguir. E os bancos terão que usar um modelo baseado não em um percentual de receita, mas no estabelecimento de metas e objetivos", afirma o especialista, que está acompanhando a adaptação de algumas instituições à resolução 3.921 do CMN.

Segundo Prado, o impacto será muito grande. "Todo mundo deixa as coisas para a última hora. E apesar de a resolução ser de novembro de 2010, muitos bancos só começaram a se mexer no segundo semestre de 2011."

O texto da regulamentação diz que os limites de que no mínimo 50% da remuneração variável deve ser paga em ações e que 40% da parcela variável deve ser diferida se restringem aos conselheiros e diretores estatutários.

Mas a resolução estabelece diretrizes que valem para todos os pagamentos, por isso o impacto deve ser notado também em outros níveis hierárquicos.

Segundo a norma, o cálculo da remuneração variável deve levar em conta não apenas o desempenho da unidade de negócios, mas também o resultado geral da instituição (evidenciado pelo lucro líquido recorrente) e a avaliação individual. Devem entrar na conta também os riscos assumidos para obtenção desses resultados, o que torna improvável o uso da receita como métrica de referência para o pagamento de bônus.

A importância de se levar em conta os riscos assumidos para o pagamento da remuneração de todos os escalões dos banco é reforçada pelos casos em que operadores de mesa de tesouraria, aparentemente sozinhos, provocaram perdas de bilhões de euros para o banco francês Société Générale e para o suíço UBS.

Ao falar de como ficará a vida dos administradores dos bancos, o especialista da Towers Watson diz que as instituições estão aumentando os salários fixos, já que a regra do diferimento de 40% da remuneração reduz o valor pago no curto prazo.

Como consequência, no entanto, ele diz que pode haver uma redução do pacote total. "Imagine que antes 70% da remuneração era variável (no risco). Se for diminuir para 60% ou 50%, vai ter uma troca e a remuneração total vai ser menor. Os bancos estao fazendo esse tipo de ajuste", explica Prado. Isso deve ocorrer não apenas para manter a "liquidez" do executivo como também pelo espírito da resolução, que é de diminuir o apetite por risco.

A determinação de regras e limites para a remuneração de executivos de bancos é uma consequência de decisões tomadas em 2009 pelo G-20 e pelo Financial Stability Board, que foram seguidas pelo Banco Central.

A autoridade monetária brasileira considera que a estrutura da remuneração de executivos de instituições financeiras nos Estados Unidos e em alguns países da Europa foi um dos fatores determinantes, entre vários outros, para a crise financeira internacional que eclodiu em 2008.

O BC disse que o Brasil não teve os mesmos problemas e exageros vistos no exterior na área de remuneração, mas decidiu adotar uma regulamentação para o tema para evitar que os casos como aqueles se repitam no país.

Durante o período em que a norma ficou em audiência pública, houve discussão se a regulamentação, tal como proposta na minuta, seria um fator inibidor ou incentivador de risco.

Mas o Banco Central lembra que no texto final foi retirada a obrigatoriedade de que 40% da remuneração "dos administradores e dos empregados cujas ações tenham impacto material sobre a exposição ao risco" fosse variável, conforme constava do texto original. Se isso fosse mantido, alguns bancos que sequer pagam bônus teriam que começar a fazê-lo.

Ainda assim, começa a se questionar no exterior se a remuneração por meio de opções de compra de ações alinha de fato o interesse do administrador ao do acionista das empresas.

Segundo um especialista ouvido pelo Valor, é preciso ter bastante cuidado no desenho desses planos para que eles não sejam desvirtuados. A existência de desconto no preço do exercício das opções é um dos fatores que provocam o desalinhamento. Ao ter direito de comprar os papéis a um preço mais barato que o de mercado, o executivo ganha recursos mesmo que as ações fiquem estáveis ou até mesmo caiam até a data de exercício.

A concessão de pacotes gigantes de opções também pode ser um problema. Se em um única outorga de opções o executivo ganhar uma bolada suficiente para nunca mais se preocupar com dinheiro, ele deixa de ter o estímulo de retenção na companhia, que seria um dos motivos para se ter um plano de opção de ações.
Fonte:ValorEconômico14/02/2012



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