Um ETF (sigla em inglês para Exchange Traded Fund, algo como fundo com cotas negociadas em bolsa) permite investir em um fundo que, em geral, procura replicar o desempenho de um índice acionário. No Brasil, os ETFs existentes são (em parênteses, o índice que procuram replicar): PIBB11 (IBX-50), BOVA11 (Ibovespa), MILA11 (Mid Large Cap) e SMAL11 (Small Cap).
No blog do Márcio Rodrigues no InvestBolsa, há uma série de textos sobre ETFs, examinando o desempenho do BOVA11 desde o lançamento e falando de operações com esse ativo. No site da Bovespa, há uma área sobre os ETFs brasileiros.
Para um investidor que deseje manter uma carteira indexada ao Ibovespa, investir em BOVA11 é uma alternativa interessante. Comparado com comprar cada ação do Ibovespa individualmente, o investimento no ETF tem a vantagem de pagar menos corretagens na compra das ações e de não precisar ajustar a carteira toda vez que uma empresa paga dividendos ou que a carteira seja modificada. Na verdade, é inviável para um investidor pessoa física replicar o Ibovespa. Uma outra alternativa seria investir em um fundo mútuo normal, mas é possível que o fundo cobre taxas de administração maiores do que a taxa de 0,54%a.a. do iShares Ibovespa Fundo de Índice, o fundo do BOVA11. Outra vantagem é a flexibilidade, já que os fundos de ação fecham cota em d+1 e liquidam em d+4. Como desvantagens, é possível que o fundo do BOVA11 não consiga replicar eficientemente o Ibovespa e que a diferença entre a melhor ordem de compra e a melhor ordem de venda do ativo seja muito grande, diminuindo os retornos.
Um investidor que decida indexar a sua carteira em renda variável usando o ETF pode ainda acrescentar outros ativos à sua carteira, procurando aumentar o retorno ou diminuir o risco (essas duas possibilidades serão chamadas genericamente de “ganho”). O retorno e o risco esperados do Ibovespa e do BOVA11 podem ser considerados altos ou baixos pelo investidor, o que o levaria a buscar uma carteira alternativa. È disso que se trata esse texto.
Na planilha, há um estudo com a combinação do BOVA11 com oito outros ativos formando oito tipos de carteiras, quatro ativos que geralmente registram um beta maior do que 1 e quatro ativos que geralmente registram betas inferiores a 1, cada tipo oferecendo um ganho diferente. No primeiro grupo procura-se aumentar o retorno da carteira e no segundo procura-se diminuir o risco da carteira. A expectativa é que risco e retorno variem na mesma direção, mas é sempre possível que essa relação não se verifique em determinadas situações, com certos ativos, em algum período de tempo.
Nesse pequeno estudo, são considerados custos com corretagem, podendo ser fixa, variável ou uma combinação dos dois tipos. O tamanho do investimento inicial também varia. As simulações começam no dia 02/12/08 com compra do ETF e da ação ao preço de abertura em uma determinada proporção. Os dividendos distribuídos pelas empresas são reaplicados na mesma empresa, no dia em que o dinheiro é liberado, ao preço de abertura.
Para cada uma das oito carteiras, foram consideradas quatro possibilidades de corretagens e tamanho do patrimônio inicial e duas possibilidades de proporções de ETF e da ação. Há ainda a alternativa “Colchão”, com uma proporção em BOVA11 e o resto não investido. Os resultados estão resumidos nas pastas “Resultados 5050” e “Resultados 9010”, a primeira usando proporções iguais e a segunda considerando 90% de ETF e 10% da ação.
No período de tempo entre 02/12/2008 – 03/08/2009, com proporções iguais, usando corretagem variável de 0,5%, o BOVA11 rendeu 57,77%, com desvio padrão diário de 2,35%, pagando apenas duas corretagens (a da compra e a corretagem que será incorrida na venda).
Na proporção 50%/50% e corretagem de 0,5%, as carteiras com ações com betas maiores do que 1 tiveram retornos superiores a 57,77%, com exceção da carteira com VALE5. O risco dessas carteiras é maior.
Na mesma proporção, as carteiras com ações com beta inferiores a 1 tiveram menores riscos, sem exceção. A carteira com CRUZ3 teve um retorno apenas um pouco abaixo do retorno do BOVA11, com um risco consideravelmente menor. A carteira com TLPP4 teve o menor risco, mas também o menor retorno. Essa carteira perde para a alternativa “Colchão”, com apenas um pouco mais de retorno e muito mais risco. É possível concluir que, nesse caso específico, CRUZ3 foi um bom investimento para quem desejava diminuir o risco e TLPP4 um mau investimento.
Secundariamente, há os resultados da carteira com ETER3, com beta nos últimos 60 meses um pouco acima de 1. Para ETER3, nesse estudo, o retorno foi maior e o risco menor. Esse foi um excelente investimento, porém, não é razoável esperar que esse resultado se repita no futuro.
Mudando de corretagem variável para fixa (R$ 16,99 nesse estudo), com patrimônio inicial de R$ 10.000, os retornos aumentam na maioria dos casos. A exceção é com TRPL4, que pagou dividendo em diversas ocasiões, o que acaba gerando mais corretagens fixas. Aumentando o patrimônio inicial para R$ 50.000, os retornos aumentam (o custo fixo de corretagem é diluído) e diminuindo o patrimônio para R$ 3.000, o retorno de todas as carteiras compostas é menor do que na situação com apenas corretagem variável. Nessa última situação, BOVA11, que paga menos corretagem, ainda tem retorno maior do que com corretagem variável de 0,5%.
Mudando a proporção para 90% de BOVA11 e 10% de ação, os resultados discutidos acima continuam parecidos. A principal mudança é a variabilidade dos retornos das estratégias. Com proporções iguais, o investidor pode extrair maiores ganhos, aumentando mais o retorno ou diminuindo mais o risco. Porém, há uma chance nada desprezível de escolher o ativo errado e obter resultados diferentes do esperado (casos de VALE5 e TLPP4, nesse período). Nessa proporção, o investidor não pode ser considerado bem diversificado. Aumentar a diversificação comprando BOVA11 e diversos outros ativos não faz muito sentido. Uma solução com custo menor seria aumentar a proporção de ETF, para 90%, no exemplo do estudo. O resultado é que o risco de errar na escolha do ativo para juntar ao ETF é diminuído. Na média, a proporção 90%/10% tem maior retorno e menor risco, mas os valores máximos e mínimos para retornos e riscos estão menos distantes das médias.
Conclusões, aplicações e notas:
1 – Para um investidor que deseje que sua carteira seja indexada, é possível aumentar o retorno ou diminuir o risco a um custo baixo, incluindo apenas mais um ativo na carteira.
2 – Com corretagem fixa, quanto mais dividendos a empresa pagar e mais reaplicações forem feitas, pior. Pra essa estratégia, o ideal é a escolha de uma empresa que pague dividendos em poucas ocasiões (independente de ser muito ou pouco).
3 – Com corretagem fixa, tamanho importa. Se o investidor tiver uma carteira inicial muito baixa, não seria aconselhável adotar essa estratégia, talvez nem investir em ETF isoladamente, podendo ser preferível um fundo mútuo.
4 – Manter uma proporção maior de ETF está mais de acordo com a idéia dessa estratégia: o investidor continua bem diversificado, mas pode adequar melhor o seu perfil. Os ganhos são marginais (um pouco mais de retorno ou um pouco menos de risco), e não bruscos.
5 – Não foram apresentadas analises sobre qual das carteiras formadas teve desempenho melhor. O objetivo aqui era apresentar uma possibilidade e analisar seus resultados, não analisar o desempenho de nove ativos ou sugerir uma determinada combinação.
6 – A fonte das cotações é a Economática. A fonte dos dividendos é o site da Bovespa.