Marcas e Empresas
Medidas de desempenho
Existem diversas medidas de lucros, cada uma com a sua utilidade e suas limitações. Nesse texto, comento alguns desses indicadores.
Lucro Líquido
Cálculo (mais geral): Receita Líquida – Custo dos Produtos/Serviços Vendidos/Prestados – Despesas Operacionais + Receita (Despesa) Financeira Líquida + Lucro (Prejuízo) não-operacional + Equivalência Patrimonial – Imposto de Renda – Contribuição Social.
O que mede: É o resultado que sobra para os acionistas após todos os pagamentos (ou melhor, após a geração de competência dos pagamentos) aos fornecedores, funcionários, credores, governo etc. Outra interpretação é que o lucro líquido é o valor que ou será distribuído aos acionistas na forma de dividendos ou será acrescido ao Patrimônio Líquido.
O que não mede: Não chega nem perto de medir geração de caixa, já que muitas receitas e despesas não são convertidas imediatamente em caixa (algumas receitas serão recebidas depois, assim como alguns pagamentos serão feitos depois) e outras não serão (Equivalência Patrimonial). Assim, nem todo o lucro gerado está disponível para remunerar os acionistas. Todo o lucro pertence a eles, mas uma parte será distribuída, outra retida.
Utilidade: Na minha opinião, continua a ser um objetivo razoável a ser alcançado pelas empresas. O defeito não é que deixa de considerar os outros stakeholders, como se diz, mas que é miótico. Considera os custos incorridos (pela empresa) para ser gerado, mas desconsidera os custos a serem incorridos em sua manutenção. Não considera custos incorridos por outros para a geração de resultado (externalidades negativas), mas medida alguma o faz.
Lucro Líquido Recorrente
Cálculo: Lucro Líquido + Despesas(Receitas) não-recorrentes*(1 - %Impostos)
O que mede: É o lucro que a empresa tem melhores condições de igualar no ano que vem, caso tudo permaneça como está.
Exemplos de efeitos não recorrentes: Venda de participações (venda de ações da Visanet pelo Bradesco), venda de parte da empresa (venda da Namisa pela CSN), amortização de ágio de aquisição (ágio da compra do Bank Boston pelo Itaú), despesas com IPO (pelo novo padrão contábil, isso deixa de ser uma despesa).
Utilidade: No ano seguinte, certas despesas e receitas não irão ocorrer novamente, o que deve ser considerado no cálculo de crescimento de lucro ou rentabilidade.
Lucro Operacional
Cálculo: Receita Líquida – Custo dos Produtos/Serviços Vendidos/Prestados – Despesas Operacionais.
O que mede: É o lucro gerado pelas operações da empresa que servirá para remunerar acionistas, credores e governo. Mede o lucro que a empresa gerou nas suas atividades fins.
O que não mede: Nem tudo que afeta o resultado disponível para remunerar acionistas e credores é considerado, logo, não é uma medida de distribuição de resultados.
Utilidade: É uma medida do quanto a empresa está gerando naquilo que tem competências e recursos. Desconsidera os resultados financeiros, que não deveriam ser algo com que as empresas não-financeiras devessem buscar tanto, e também resultados não-operacionais.
EBITDA
Cálculo: Receita Líquida – Custo dos Produtos/Serviços Vendidos/Prestados – Despesas Operacionais + Depreciação e Amortização
O que mede: É a geração de caixa com as operações da empresa que será usado para remunerar acionistas, credores e governo.
O que não mede: Não é uma medida de rentabilidade. Os acionistas ou os acionistas e os credores não se apropriam de todo esse resultado, já que há o governo ainda a receber e existem receitas e despesas não consideradas que aumentam ou diminuem os resultados a serem apropriados Também, não é uma boa aproximação dos dividendos potenciais da empresa. Não considera as necessidades de investimento em capital de giro ou em capital fixo, nem o efeito da dívida.
Utilidade: Verificar a geração de caixa com as operações da empresa, o quanto as operações geraram de caixa disponível para remunerar capital de terceiros, o governo e os acionistas.
Pronúncia: A pronúncia correta da sigla em inglês é algo como Ebidá.
Dividendos
Cálculo: Na verdade, não se calcula. Basta checar o quanto foi distribuído, geralmente, verificando a Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido.
O que mede: É o quanto foi distribuído para os acionistas na forma de dinheiro.
O que não mede: Não é uma medida de lucro. A empresa pode distribuir mais do que teve de lucro ou pode não distribuir nada, mesmo tendo lucro.
Utilidade: É uma medida de fluxo de caixa distribuído aos acionistas que, trazidos a valor presente pelo custo do capital próprio, resulta no valor da empresa. Porém, antes de fazer esse cálculo, deve-se considerar se a empresa não distribui caixa de outras formas, como recompra de ações.
Fluxo de Caixa ao Acionista (FCFE)
Cálculo: Lucro Líquido – (Investimentos de Capital – Depreciação e Amortização) – Investimentos em Capital de Giro + (Nova Dívida – Pagamento de Dívidas).
O que mede: Esse é o caixa que a empresa pode pagar aos seus acionistas na forma de dividendos ou recompra de ações. É o resultado gerado menos as necessidades de reinvestimento, considerando que essas necessidades podem ser financiadas com dívida.
O que não mede: Apesar do nome, não é uma medida de geração de caixa. É o que sobra da geração de caixa após o pagamento aos credores e ao governo e após os investimentos necessários.
Utilidade: Em avaliações de empresas, é usado como fluxo de caixa, a ser descontado pelo Custo do Capital Próprio (Ke), jamais pelo WACC.
Por que dividendos e fluxos de caixa divergem?
Uma razão é a de que a empresa usou parte do caixa disponível para recomprar ações. Mesmo fazendo essa consideração, dividendos mais recompra de ações podem divergir do fluxo de caixa. Isso seria um erro de previsão dos fluxos de caixa, ou porque o desempenho da empresa foi diferente do esperado, ou porque a empresa tomou decisões inesperadas (pagou mais da dívida, investiu mais, manteve mais caixa etc.). No entanto, deveriam ser os mesmos. Ao invés de chamar fluxo de caixa ao acionista poderiam ser chamados de “dividendos e recompra de ações esperados”.
Fluxo de Caixa para a Empresa (FCFF)
Cálculo: Lucro Líquido + Juros sobre a dívida(1-T) – (Investimentos de Capital – Depreciação e Amortização) – Investimentos em Capital de Giro
O que mede: Esse é o caixa que a empresa pode usar para remunerar os acionistas e os credores.
O que não mede: Essa é uma medida relativa à empresa inteira (Capital Próprio e Capital de Terceiros), logo, essa não é uma medida de dividendos potenciais. Também, não é geração de caixa operacional, já que considera desembolsos na forma de investimentos.
Utilidade: Em avaliações de empresas, é usado como fluxo de caixa, a ser descontado pelo Custo Médio Ponderado de Capital (WACC em inglês).
Conciliação FCFF e FCFE
FCFF = FCFE + Fluxo da Dívida
O fluxo da dívida é: Juros (1-T) - (Nova Dívida – Pagamento de Dívidas).
Valor Adicionado (da Demonstração de Valor Adicionado)
Cálculo: Receitas – Insumos adquiridos de terceiros – Retenções.
Cálculo2: Remuneração aos funcionários + Taxas, Impostos e Contribuições + Remuneração aos Credores + Remuneração do Capital Próprio.
O que mede: Análogo à fórmula de Valor em economia, que é: Valor = Benefício – Custo. De um lado, mede o quanto a empresa gerou de valor para a sociedade e, do outro, como esse valor é distribuído entre funcionários, governo, credores e acionistas.
O que não mede: Não é uma alternativa ao lucro líquido. Maximizar esse valor e maximizar lucro envolve a mesma lógica: significa aumentar a receita até tal ponto em que a receita gerada por mais um item iguala ou supera o custo incorrido em produzir esse item. De resto, só mostra como esse valor é distribuído entre as pessoas (diretamente ou representadas por pessoas jurídicas).
Utilidade: Os stakeholders podem verificar quanto valor recebe, em termos absolutos e relativos, por parte das atividades da empresa. É útil para que funcionários julguem se a contribuição deles é devidamente remunerada e para que o público geral julgue se a empresa paga o quanto deveriam pagar de acordo com as externalidades negativas geradas e outras considerações.
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